Texto Claudia Süssekind  / Photo Brooke Cagle

Sobrevivemos.

Sobrevivemos ao caos que nos chacoalhou as estruturas em 2020, nos tirando do modo automático e nos colocando diante da urgência de uma reconstrução individual e coletiva. Fomos heróis, anônimos ou não, vivendo um dia de cada vez, descobrindo novas formas de trabalho, novos recursos para encontrar paz no meio do caos, alegria e ânimo no meio das assustadoras incertezas, transcendência no meio do bombardeio de notícias tristes, saúde no meio de um cenário de doenças e mortes e amor no meio da escassez de abraços .

Despertamos!

Nem todos, infelizmente, mas é assim que caminha a humanidade desde que o mundo é mundo.

Felizmente caos e escuridão não são estados permanentes, são etapas da evolução do mundo e da civilização. Quem consegue enxergar de uma forma mais ampla sabe disso e até suporta melhor os períodos duros das grandes transições. Afinal, sabem que tudo passa e saímos transformados. Lapidados.

Crescemos.

Com emoção, com mergulhos mais profundos, momentos de dor, de medo, estranhamento, restrições, inseguranças, ansiedade… e muita transcendência, criatividade e esperança pra não pirar!

E o temor de contaminar alguém? De perder alguém? Convivemos com este fantasma diariamente em algum grau. A verdade é que cada um foi buscando um meio de se relacionar melhor com a morte, a grande protagonista de 2020. E a morte inspira a vida. Essa certeza veio bem forte também. Felicidade para todos, agora. A vida é um sopro. Ame, viva, declare-se, experimente aquilo que sonhou, escute-se e tenha a coragem de ter a vida que faz sentido pra você.

Transcendemos.

Dá-lhe vinho, música, amor, meditação, leitura, espiritualidade, estudo, artes, terapia, calmantezinhos e novos projetos !

Encaramos.

Não conseguimos fugir do encontro real com nós mesmos e com os outros, relações superficiais ou com pessoas completamente diferentes tiveram que ser reformuladas pra não caírem num abismo. Nossas sombras e as sombras dos outros apareceram como nunca antes. Da mesma forma, nossos tesouros que estavam ocultos vieram à tona. Descobrimos lados nossos que talvez nunca fossem acessados.

Foi um ano que olhamos de frente para um tema difícil, a morte. E isso mexe muito com a nossa própria vida. Mexe com as escolhas, mexe com os valores, mexe com a forma que vamos querer ser daqui pra frente. Mexe com todas as relações. Com nós mesmos, com o outro, com o mundo.

Assim são as grandes viradas da existência!

Não foi um ano leve, foi um ano que não poupou as nossas estruturas internas e externas. Chegou derrubando tudo e nos obrigando a reconstruir a vida de outra forma. Seja diante de perdas de entes queridos, de perdas financeiras, de mudanças de visões e valores existenciais. A boa notícia é que todo o caos precede uma nova ordem, e toda a escuridão precede uma nova visão. Enquanto não se enxerga um novo caminho a sensação é de confusão, ansiedade e medo, mas também é o que testa a nossa fé e a nossa capacidade de adaptação à uma outra configuração mais elevada. Cada um viveu e está vivendo de uma forma diferente todas essas tensões reais. Infelizmente ainda temos que lidar com a insanidade de quem nega a realidade e gera graves consequências ao todo, e como estamos coligados sofremos o alto preço dessa irresponsabilidade e egoísmo. Acho que ficou claro em 2020 que o que atrapalha a evolução é exatamente a falta de um olhar para a coletividade, para o todo. Depois de presenciarmos tantas mortes, não apenas mortes físicas, mas mortes de formas de pensamento, é chegada a hora de começarmos a celebrar os renascimentos. Que comece a nascer uma nova humanidade! Que os resultados dos nossos processos internos nos leve a um futuro mais iluminado, mais leve e mais altruísta. Feliz ano novo pra todos!