Criadoras do cosmos, deusas da natureza, senhoras da vida e conhecedoras dos grandes mistérios do mundo. O dia das mães é neste domingo (13), mas seu símbolo é atemporal, ancestral e poderoso. O arquétipo da Deusa-Mãe, além de presente no carinho e no afeto daquelas que nos carregaram em seu corpo, também ordenou as diversas civilizações ao redor do mundo em função de seu profundo impacto cultural, emocional e religioso.

Afinal, o que são as “Grandes Deusas” e por que razão carregam tantas características em comum? Seria seu amor tão universal quanto seu culto? Até que ponto a expressão “mãe é mãe, só muda o endereço”, mostra-se verídica em termos histórico-culturais? De que forma elas se encontram nas nossas vastas mitologias?

A caracterização das Grandes Mães e suas composições são quase unânimes nas religiões ao redor do globo. São associadas à lua, à magia e à natureza como as celtas Danu e Cerridwen, Mães de todas as criaturas, e a egípcia Ísis, conhecedora das artes mágicas como as duas anteriores; são senhoras do destino, da vida e da morte, como Cibele, a “Mãe Montanha” adorada na Frígia, no Oriente Próximo; são o útero que cria o mundo e todas as coisas, como a Gaia dos gregos; são deusas das águas e das correntezas, como Tétis, mãe de Aquiles, e Iemanjá, matriarca da cultura yorubá; são deusas da fertilidade, como a nórdica Frigg e a grega Réia ― nossa homenageada.

Pois vem de ti tanto a terra quanto o amplo e alto céu,

o mar e os ventos: aeriforme sempre em movimento…

Vem, venturosa deusa, com benévolos desígnios

trazes a salvação, a paz e afortunadas riquezas,

enviando a mácula e a morte cruel para os confins da terra.

                                                    Trecho do Hino Homérico à Réia.

Conhecida como “Réia-Madre” e associada com a deusa Cibele ― a Magna Mater do Império Romano e proveniente da Frígia, “mãe de todos os seres” e senhora das muralhas ― Réia não é apenas titânide da fertilidade, esposa de Cronos ― titã do tempo ― e filha do primeiro casal cósmico (Urano e Gaia [Céu e Terra]) mas também é mãe de Zeus, figura mais importante do panteão grego, e, sendo assim, símbolo materno vital para a Grécia Antiga.

O ápice do mito de Réia se dá quando seu irmão e esposo, Cronos, após matar o pai tirano, recebe a profecia de que o mesmo destino cairá sobre si. Dessa maneira, o titã se põe a devorar todos os filhos paridos do ventre de Réia, com medo de que eles também o derrotem. São eles os deuses do Olimpo, que reinarão sobre o mundo após a Era dos Titãs: Hera, Héstia, Deméter, Poseidon, Hades e Zeus. Zeus, o mais novo, foi o único que a mãe foi capaz de salvar, substituindo-o por uma rocha envolta por lenços. O pequeno deus foi criado e amamentado na Ilha de Creta, onde encontram-se os principais templos de Réia.

Na Grécia Minoica, Réia possuía um grandioso protagonismo nos cultos cretenses, sendo associada com a Deusa Mãe adorada naquela cultura. A antiga religião matriarcal, proveniente de uma Grécia mais primitiva, não possuía esses tantos deuses que conhecemos, mas uma Grande Deusa que dominava todos os aspectos da natureza e da vida ― já que aquela sociedade era predominantemente agrícola ― e um Deus, indicado como um bravo guerreiro domador de feras, que é seu consorte e filho. Ambos, tal como as estações do ano, possuíam vidas cíclicas, pois morriam e renasciam no ano seguinte.

No entanto, na Grécia Clássica, o culto à Reia perdeu relevância e tornou-se restrito às regiões de Creta, Arcádia, Beócia e Atenas e, tal como as várias outras culturas ao redor do mundo, o seu lugar sagrado foi substituído pela civilização patriarcal. Apesar desse fato, Réia, nossa titânide da fertilidade, mãe dos deuses do Olimpo e amiga dos leões, tem muito a ensinar para as mulheres ― como todas as Grandes Deusas ao redor do mundo ― sobre ancestralidade, maternidade e, acima de tudo, amor.