Ela à cabana de bela feitura, em seguida, chegou.

Lá no casebre o encontrou solitário, apartado dos outros,

A ele que tem a beleza dos deuses: Anquises — o herói.

Hino Homérico à Afrodite

Nossas vidas são atravessadas por encontros, bons ou maus, longos ou breves. Por muitas vezes, nossas almas se cruzam com pessoas tão distintas a nós quanto a água é do vinho. Seria isso um erro? Deveríamos buscar apenas semelhantes como parceiros e parceiras? Às vezes, o encontro se basta, mesmo que dure uma noite. O que os deuses do Olimpo têm a nos dizer sobre isso?

Afrodite é conhecida no mundo grego como a soberana das paixões: deusa do amor, das carícias e do doce desejo. Ao lado do filho Eros, sua maior diversão é passar o tempo confundindo os sentimentos dos Olímpicos, fazendo-os se apaixonar por homens e mulheres mortais.

Isso trazia muito rancor entre os imortais, já que compartilhar seu corpo divino com os perecíveis e cinzentos “comedores de pão” (forma como os humanos são conhecidos nos textos Homéricos) era algo vergonhoso. Por esta razão, Zeus, rei dos deuses, decidiu que Afrodite provaria de seu próprio veneno! Manipulando o Desejo, fez com que ela se apaixonasse perdidamente por um rapaz mortal.

Era Anquises, um príncipe troiano. Belo, corajoso e honrado. Enlouquecida em seu próprio desejo, a deusa vestiu-se de traços mortais e desceu até a colina do Ida — um monte nos arredores de Tróia, onde o rapaz pastoreava. Ela usava tecidos asiáticos com cores vibrantes e várias jóias douradas.

— És uma deusa? — Anquises indagou ao ver aquela criatura linda, sozinha.

— Deusa? — Afrodite riu. Apresentou-se como uma princesa Frígia, a própria prometida de Anquises! Filha de Otreu. Disse que o desejava e, guiando o rapaz até o casebre no alto da colina, pediu que ele a desposasse ali mesmo. Sob as estrelas.

Quando a aurora nasceu, Afrodite despertou o amado. Irada, disse que esperava um filho dele e que a criança lhe seria entregue em dez luas. Não apenas amara um homem humano, como também guardava um em seu ventre, depois da união. Apesar do orgulho divino ferido, a deusa fez questão de escolher o nome de seu amado filho: Enéias.

Naturezas absolutamente distintas: a mortal e a divina. Como lobos e carneiros, bronze e carvalho. Mesmo assim, Afrodite amou Anquises. Aquela noite solitária em um casebre de madeira pertencia aos dois, como nenhuma outra jamais pertenceria. Assim são os encontros! Muitas vezes ardentes —  às vezes, com as pessoas erradas! — mas, sempre são únicos e preciosos. Como a estrela Astarte, a luz de Vênus, brilhando sozinha no céu.