Línox é um artista multifacetado: produtor, compositor, arranjador, cantor e poeta, lançou três discos, sendo seu primeiro trabalho autoral em 2002. Iniciou-se profissionalmente na música como baterista da banda de Moraes Moreira e também tocou no grupo Fibra ao lado de Zé Ricardo.

Em 2009 destacou-se na poesia com o Organismo Diálogos Poéticos, ao lado de Shala Andirá e Roberto Pontes.

Fluminense de Petrópolis, vive no Rio de Janeiro e acaba de lançar seu primeiro livro de poemas, A poética do Impulso, editado pela Ibis Libris.

Em um café na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, Línox chegou sorrindo, contagiando amor num longo abraço, e conversou com a Vênus Digital sobre trocas, amor e poesia.

Vênus Digital – Seu livro A Poética do Impulso nasceu de diálogos com amigos no Facebook. Como se deu isso? O Organismo também nasceu assim?

LÍNOX – Foi desde 2010, com muitos dos amigos que passaram de 2010 a 2013 no meu perfil do Facebook. O Face estava começando, e eu gostei da ideia de um espaço onde se pode exercitar a palavra e sentir a forma que ela ecoa naturalmente. O Organismo nasceu assim. Nós começamos a nos corresponder muito e ninguém se conhecia pessoalmente. Até hoje não conheço pessoalmente muitas das pessoas com que me correspondia , ficou só no virtual, mas foi o que era pra ser também. Esses encontros todos eram trocas vivas, alguém mandava um poema e eu fazia um outro poema e mandava.

Eu sinto que A poética do impulso, a tradução dela, é não ser apenas um livro de poemas. É um livro de fragmentos, de ideias e pensamentos que têm uma linguagem poética muito acirrada e faz parte do meu histórico. Toda minha escrita sempre esteve ligada à música. Quando iniciei este processo de descolar minha poesia da música, ele não foi total. Sinto que foi parcial: as coisas que eu escrevia tinham sempre uma sugestão rítmica, melódica, e o Organismo nasceu desta história, destes experimentos, quando a gente dava asas a estas sugestões.

Vênus – Como está seu trabalho atualmente na música?

LÍNOX – Estou trabalhando muito em produção musical. No momento, estou dentro do estúdio direto. Fiz agora a produção musical da Ana Petkovic, uma cantora sérvia, junto com o Max Viana, que é meu parceiro nessas empreitadas. Gosto de estar por trás, pensando a música. Tenho feito composições para novos artistas que produzo e estou gostando muito disso.

Vênus – Como você encara estes tempos de intolerância?

LÍNOX – O amor é a chave de todas as portas. Há um poema neste livro que diz isto. É muito bom falar de “amor”, que é um tema recorrente neste livro. O amor é como um copo d’água, como diz João Cabral de Melo Neto. O amor neste livro está superpresente. Muitos poemas de desejo, um desejo pulsante, que é uma forma de amor.

(pega o livro, folheia e lê)

“Consentem/ os corpos agradecem / os carinhos que tecem / o caminho das mãos/Os corpos abastecem/ são abastecidos/quando abertos os sentidos/sorrisos em profusão/ Penso que os corpos pensam/ vibram/ se comunicam/ se identificam/ sempre apontam a direção/ Corpos são fieis a liberdade/ e nada sabem sobre traição/ Tensão, excitação/atenção/ libido/ coisas de corpos vivos/ gritos de corpos sãos.”

“Amor pra dar/ pra ter/ pra exercitar, pra provocar/ pra ganhar e se perder/ Chave de todas as portas/ rotas pra gente acender./ O amor é a tal condição que não me canso de querer,/ é ação do core/ coragem que colore a alma/ que seduz a calma/ pro bom da vida acontecer/O amor é um prazer que só o amor consegue ser/ é o estado mais forte do pulso/ ímã de luz, sorriso avulso/ amor é vontade de viver/ E, daqui pra frente/ em poesia ou não/ ate que a morte nos reinvente/ o AMOR, é o que mais concretamente/ desejo,pra mim e pra você.”

É um livro onde estou muito exposto. No momento em que li este poema pra você, eu me emocionei, curiosamente, porque veio um monte de coisa na cabeça. A partir do momento que se percebe que o tempo vai passando, o grande barato de qualquer expressão artística é que tem uma abertura de sentidos, e você consegue abrir os sentidos de tal forma, que aquilo vai e se resignifica à medida em que vamos lendo. Muitas das vezes estamos num estado de espírito tal, que aquilo nos chama para uma conclusão, e em outra vibe te leva pra outro caminho.

Vênus – A diagramação do livro é incrível, quem desenvolveu o trabalho?

LÍNOX – O visual deste livro é do Eduardo Rocha, um amigo querido e supertalentoso, que se envolveu com o livro. Ele foi convidado para fazer a capa e, quando percebemos, estavam todos os poemas já traçados, e ele foi muito sutil… Um grande artista.

Vênus – Mesmo que o livro tenha nascido de diálogos poéticos, o trabalho de finalização ocorreu de forma solitária?

LÍNOX – Sem dúvida, o livro me pegou muito de surpresa. Quando eu encerrei meu perfil no Facebook, escutei de muita gente que eu deveria publicar, pois já era um livro. Nunca confiei muito nisso. Em 2015, quando eu peguei pra ler, começou o processo de redução. Fiquei encantado com as possibilidades criadas. Pela falta de pretensão e pela exposição natural, eu sinto que ele hoje é um livro que estabelece uma fácil comunicação com quem ama poesia e com quem ainda não chegou nestas nuances que a poesia cria.

“Precisamos de um amor muito grande pra conseguir compreender questões importantes do mundo. Vale a pena viver profundamente.”

Vênus – Você acredita que há preconceito com livros de poesia?

LÍNOX – A poesia não é tão fácil de se consumir. Há que se ter uma disponibilidade de alma, de tempo, e não sei se temos isso com muita facilidade nos dias de hoje.  A poesia não é uma literatura comercial. Acho que, de uma forma geral, a cultura que se assimila hoje é muito superficial e as propostas são de mergulhos rasos. A poesia, em si, propõe um mergulho mais profundo, senão você não entra em 90 % do universo dos poetas, não entra se você não tiver aceso por esta proposta. A cultura que se assimila nas rádios e na tv, em geral, é muito superficial. É difícil se desprender disso tudo. Nós nunca tivemos uma vida com possibilidades tão sedutoras com tão pouca sedução (risos). É tudo tão raso, que qualquer proposta de um mergulho mais profundo, muitas vezes, assusta. Por isso, acho que as drogas ganham espaço, pois, quando nunca se consegue aprofundar, através de uma droga qualquer se pode conseguir quebrar uma trava da consciência e daí começar a mergulhar naquilo ali, que entorpece, que amplia.

Vênus – Na literatura, quais são suas referências?

LÍNOX– João Cabral de Melo Neto foi pra mim muito importante e Ferreira Gullar, apesar da atitude política… A política está derrubando todo mundo, mais ninguém com convicções políticas seguras hoje… tudo muito inseguro, misturado, e eles foram figuras fantásticas. Dos contemporâneos, cito o Chacal, Tavinho Paes, Pedro Rocha, várias figuras incríveis que estão aí com trabalhos relevantes.

Vênus – Você tem um casamento de 20 anos. Há algum segredo para que dure tanto tempo uma relação nos dias de hoje, onde as relações são tão fugazes?

LÍNOX – Casamento é como andar de moto. Foi feito pra cair, mas há pessoas que conseguem equilibrar, e estamos equilibrando esse tempo todo… é um exercício diário. Se vc perde atenção, dança, cai.

Vênus – O que te inspira, além de pessoas e diálogos?

LÍNOX – A vida é muito inspiradora. Sempre tive a vida como algo maior e mais inspirador do que tudo. Às vezes vejo profissionais de diversas áreas lidando com a possibilidade de ascensão como o maior feito da vida, e a vida em si é o maior feito. O caminho é. Onde tem vida, eu estou inspirado e me inspirando. Onde passa a vida, passa a inspiração. O percurso é fantástico. Viver não tem sido fácil. Por onde olho, há dificuldades absurdas, e daí você conseguir colar nessa importância que é viver é muito confortante.

Vênus – Espiritualidade? Alguma?

LÍNOX – Eu gosto da vida. E a vida passa por todas as religiões. Onde há o bem querer há a vontade de viver. Tive uma formação católica, mas nunca me ative ao catolicismo, sempre fui ligado ao Amor, ao bem querer. O Amor é minha religião, e eu o encontro onde quer que vá: na natureza, nas amizades, num sorriso, nesta nossa conversa aqui…

Vênus – No meio deste caos, deste transtorno por que passa o país, como é produzir Arte?

LÍNOX– Para mim, não é uma questão de escolha. Se eu me afasto muito, vem logo uma depressão. A gente tem que produzir. Tenho estado encantado com a possibilidade que o livro me trouxe, porque eu estava desprovido de qualquer pretensão com ele e as coisas estão aos poucos ecoando de forma surpreendente. Lançamento previsto para vários estados do Brasil, e ainda temos muito caminho para ele percorrer.

Vênus – Pra finalizar, o que é o Amor?

LÍNOX – É a mola que impulsiona o mundo. É o que realmente move alguma coisa. Precisamos de um amor muito grande pra conseguir compreender questões importantes do mundo. Vale a pena viver profundamente. É preciso investigar o Amor por diversos vieses. Por exemplo, sempre que se fala de energia sexual, logo vem em mente a sacanagem, que é bem legal, é maravilhoso isso, mas não é apenas isso. Tem muita coisa a ser descoberta por Amor, no Amor.


A Poética do Impulso

Línox

Editora Ibis Libris

161 páginas

Onde comprar? Livrarias Argumento

Foto da capa desta matéria Marcos Hermes