As imagens do ”seu” amor hipnotizado por outra pessoa estão invadindo a sua cabeça sem tréguas? A cena detalhada da atração que faiscava entre eles está se repetindo compulsivamente na sua tela mental? Você não consegue se livrar desse pensamento neurótico perturbador? Tem uma bomba dentro de você?Tudo pode ruir a qualquer momento? Romantismo, promessas, tesão, paz…

Calma!

Amor é amor, desejo é desejo.

Desejo não tem dono. Pode ficar brincando no seu mundo da fantasia sem jamais descer para a realidade. Pode até  apimentar a sua relação sem fazer estragos, afinal a imaginação é uma das maiores aliadas do prazer. 

O desejo por outro também pode ser carência ou tédio, sensações que fazem crescer uma vontade inconsciente de rearranjar a vida e buscar mais potência, satisfação e plenitude. O perigo é ele, ou ela, perseguir eternamente o fogo da paixão, buscar o banquete prometido, a deusa ou deus do Olimpo, o êxtase dionisíaco, e, quando tiver a ilusão de ter encontrado tal néctar divino, sentar-se à mesa e, com seus talheres de ouro, devorá-lo até cair no tédio. E, novamente vazio, partir em busca de um novo relacionamento que mate sua fome ancestral. Assim, nunca se experimenta o amor verdadeiro, humano, belo e imperfeito, o amor dos mortais. Que pode não virar um tédio, posto que não é estático. Podemos nos apaixonar muitas vezes pela mesma pessoa. Afinal, estamos em constante movimento e o amor nos modifica, nos faz mudar para melhor, nos dá novas visões e muitas chances de recomeços e reformas. Quando estamos, também, abertos ao processo de evolução. E a chama fica acesa. Eros não vai buscar outras moradas, quando a sua lhe parece inesgotável e cheia de vida. Eros, o Deus das Paixões, vive do mistério, do desvendamento constante da alma. Enquanto houver alma a ser desvendada, Eros está encantado e vivo. Eros se recolhe ou sente vontade de partir para outras experiências quando pensa que acabou o mistério que é o outro. Surpreenda-o!  Este é o segredinho para manter Eros com a flecha sempre virada pra você. Só sai perdendo quem fica parado, sem crescer junto com as demandas da relação e da vida. Neste caso, o desejo por outro é um ótimo aliado para chacoalhar a relação que está estagnada.

No amor não há garantias, mas existem acordos de respeito e parceria. Somos muito diversos e diferentes, e os acordos também. Há quem fique excitado com uma terceira pessoa em jogo; há quem não se incomode com o desejo do outro, contanto que faça parte dele também; e há quem não aceite a mais remota possibilidade de perder o posto de musa(o) absoluto(a). Vira bicho. O instinto de proteção mostra os dentes, ladra, rosna, quer avançar ou fugir daquilo que lhe é insuportável. Somos animais racionais. Já o tal do desejo é irracional, mas está totalmente sob o nosso comando. Se sair da fantasia, pode fragilizar uma relação que se baseia no respeito e na confiança. A sensação de traição da confiança pode fazer a relação balançar, em alguns casos terminar, em outros se reestruturar sob novos acordos, mas para a maioria é uma freada brusca, daquelas que fazem cair, em queda livre, quem andava flutuando em sua nave espacial encantada.

A verdade é que ninguém sabe, bem ao certo, qual o pilar que sustenta a relação de um casal, mas é bom tentar saber, pra não destruir justamente a estrutura que mantém o vínculo vivo e aceso. O desejo por outro não significa necessariamente perigo. Pode ser uma vontade ou curiosidade transitando livre pela nossa imaginação. Dura um tempo, depois some por não receber contornos reais. Vira fantasia! E se virar realidade é porque a sua aposta, mesmo que inconsciente, foi mudar de vida. Vai ter que dar conta disso.

Viver é estar em alto mar.