Sinais, sina, que em si, ensinam…

Algumas vezes, o cheiro do medo do desconhecido paralisa os caçadores da vida. O vazio é como o som terrível de um imenso sino, que anuncia um buraco no peito, perfurado por expectativas lançadas como flechas contra nós, deixando um rombo de incertezas da profundidade de um abismo entre o hoje e o que ainda queremos que aconteça.

Esse sino, algum dia, já badalou em todas as vidas e nessa hora buscamos sinais. Um sinal de que aquela é a pessoa certa, de que aquele é o emprego que devemos escolher, mudar, permanecer…. Um sinal do que fazer, ou não fazer.

Mesmo quem não acredita em sinais os lê: Procura ver algo naquela pessoa, encontro, lugar, que traga referencias de segurança. E emergimos em fragor, bramido e confusão, porque não sabemos ler sinais quando estamos apenas procurando o conhecido.

Um sinal de que aquela é a pessoa certa, de que aquele é o emprego que devemos escolher, mudar ou permanecer

Acomodando-nos e vestimos de hábitos e ritos do cotidiano, que são certezas frenéticas por mesmices catatônicas. Tal e qual um Jonas contemporâneo, precisaríamos de algo tão gritante como passar três dias na barriga de uma baleia e sair vivos, para acreditar no que já sabíamos.

Mesmo quem não acredita em sinais os lê: Procura ver algo naquela pessoa, encontro, lugar, que traga referencias de segurança

Andando na floresta em Saint Martin, uma amiga mostra-me uma série de sinais nas árvores pintados pelos lenhadores. Não tínhamos a mais vaga ideia do que significavam. Para os lenhadores representavam direções, locais, orientações…. Nós duas seguimos os sinais deles e acabamos perdidas porque não sabíamos ler as tais marcas pintadas. Teríamos que seguir nossos próprios sinais…

Teríamos que seguir nossos próprios sinais

Tenho procurado achar no livro da vida uma pedra roseta que descreva um método eficaz de decifrar todos os sinais sem me perder no caminho.  Não que eu esteja numa busca “maratônica” para adquirir a laboriosa sabedoria dos místicos da Índia, nem na rotina zen dos monges budistas que renunciaram ao desejo, mas, apenas, praticando olhar e enxergar.

Mesmo assim, ainda leio como uma criança que troca as letras e me perco na floresta. Peço resgate!

Um sinal é quase como o encontro de um casal que se abraça no mesmo ritmo e sincronizados enxergam prenúncios de um futuro, fruto de um delicado e tênue equilíbrio de forças, hormônios, desejos, e, mesmo na contundência desse sinal alguns só enxergam se as lentes de suas crenças e limitações assim permitirem.

Sendo assim, venho tentando perder as lentes e encontrar os olhos que permitam aproveitar lapsos de momento nos quais as areias do tempo tecem uma teia perfeita, que magicamente se enlaça com todas as possibilidades, apontando um caminho sobre uma infinitude de estradas, ou uma ponte sobre as águas revoltas da incerteza, encerrando um momento eternamente perfeito em si, sim, sina, sinal!

POR PATRÍCIA DE LUNA

IMAGEM: Naletu