Apesar da felicidade parecer uma obrigação na atualidade das redes sociais, todo mundo sabe que não é bem assim… aliás, não é nada assim! Tem dias em que a gente está bem e outros não. Às vezes estamos tristes por algum motivo específico, às vezes irritados sem motivo aparente, outras vezes estamos extremamente sensíveis, e por aí vai.

Eu não sei bem como isso começou, mas fato é que parece estar de alguma forma estabelecido que a gente precisa estar bem o tempo todo. Parece que existem estados de espírito que “podemos” e devemos manter e outros que devem ser renegados. Assim, sentimentos tão essencialmente humanos como raiva, inveja, ciúmes e tristeza são muitas vezes mal vistos e evitados – como se pudéssemos evitá-los. Não podemos. E por que deveríamos? Atualmente, parece que é de alguma forma “feio” sentir o que sentimos. Como se os sentimentos fossem divididos em categorias diferentes: os sentimentos “bons” e os “ruins”, e aí a gente só pudesse sentir (ou ao menos demonstrar) os ditos “bons”.

Nada mais longe da realidade. Ser humano é luz e sombra. Ser humano é ser complexo, contraditório e nossa vida pode ser representada como um eletrocardiograma – reprodução gráfica da atividade elétrica do coração em funcionamento: são altos e baixos, o tempo todo. Se o coração está pulsando, se estamos vivos, estamos vivendo altos e baixos, o tempo inteiro.

Assim sendo, quando estamos em um relacionamento, cada uma das pessoas está vivendo seus altos e baixos e idealmente podemos vivenciar essa experiência de relação amorosa como uma gangorra – quando um está por baixo, o outro deve estar por cima. É importante nesse sentido lançar mão da sensibilidade para perceber quando seu parceiro(a) não está muito bem, quando o outro está sensível demais, ou irritado ou triste etc. e poder então se colocar do lado de cima da gangorra para apoiar o outro e não piorar a situação.

Quando não temos a sensibilidade de perceber o outro, abre-se a possibilidade de conflitos que podem ser evitados com cautela e afeto. Então se meu parceiro está triste ou irritado por algum motivo, eu me fortaleço para ser apoio e não o contrário. É como quando o outro fica doente. Parece mais natural que cuidemos do outro no caso de alguma doença física do que quando o outro não está bem emocionalmente, mas não deve ser assim. O cuidado mútuo deve ser permanente, inclusive no campo emocional.

Da mesma forma, quando você não está bem, é interessante que o outro se fortaleça para ser seu apoio. E se isso não acontecer, você pode e deve expressar sua necessidade de cuidado. Aprender a se comunicar de forma clara e eficiente, exercitar a sensibilidade e o cuidado mútuo são muito importantes para um relacionamento saudável e duradouro.

Então, na medida do possível, eu me fortaleço quando o outro está fraco e espero que o outro possa se colocar forte quando eu estiver fraca. Eu faço a canja de galinha quando o outro está doente e espero ser cuidada quando eu adoecer. E muito importante: eu me acalmo quando o outro está nervoso e espero que o outro possa se manter calmo quando eu fico nervosa. Lembrem-se: quando um não quer, dois não brigam.