Em muitos casos um oceano os separa e não há uso de metáfora nem uma crise estabelecida entre o casal. Eles apenas estão vivendo um amor virtual.

Há cerca de três décadas, casais que viviam geograficamente distantes aguardavam cartas e telefonemas. Olhos atentos nas caixas de correio, esperavam por uma mensagem perfumada. Hoje, os olhos estão sempre fixos nas telas de smartphones e computadores, à espera de uma notificação,um status online, uma visualização e uma resposta imediata aos anseios do amor.

 Um simples double check sem resposta pode gerar crises de ansiedade e sensação de abandono.

E quando foi que nos permitimos viver um episódio de Black Mirror na vida real? A partir de que momento a tecnologia passou a ditar o tamanho do amor que sentimos e recebemos?

O psicólogo brasileiro Antônio Carlos Alves Araújo atribui a crescente busca por sites de relacionamento a uma grande falta de afetividade no mundo real somada à violência dos grandes centros urbanos.

Mara, 37 anos, contesta: “No meu caso, nunca houve excesso de carência. Apenas a natural, que toda pessoa solteira enfrenta. Trabalhava durante o dia e fazia pós-graduação à noite. Os bares nunca me satisfizeram. Voltava vazia para casa, com a sensação de tempo perdido”.

Conheceu um suíço residente na Noruega, através de um chat de trabalho. Apesar do fuso horário, passaram a se comunicar a princípio profissionalmente e em poucos meses estavam num bate-papo privado, descobrindo interesses em comum. Hoje, após 5 anos de casados e tentativas de viverem no mesmo país, encontraram uma nova forma de relacionamento: vivem cada um em seu continente e se encontram de três em três meses, durante um mês, ora no Brasil, ora na Dinamarca, país onde Levin reside.  “Nosso amor, que nos deu dois filhos, supera distâncias. Nunca tivemos rotina e talvez  por isso nunca nos cansamos da vida de casados. Estamos sempre morrendo de saudades, à espera de um novo reencontro. O amor virtual tornou-se real”, afirma.

Eis que surgem novas formas de amor no mundo contemporâneo virtualizado. Mas há de se ter cautela.

Segundo pesquisa da BBC, publicada na revista científica Proceeding of Computer Human Interacction81% das pessoas mentem em sites de relacionamento, principalmente sobre características físicas. Homens mentem mais sobre altura; mulheres, sobre o peso.

Na internet, podemos nos aproximar do nosso ideal pessoal e, assim, mentimos e omitimos. Ao projetarmos nosso ideal em outra pessoa, devemos levar em conta que essa mesma pessoa poderá agir de forma semelhante. Verdade absoluta? Nem sempre. Ao debatermos o amor, não cabem generalizações. Outro exemplo de encontro de almas se deu com Adriana e o futuro marido Dayvid.

Se conheceram numa sala de jogos virtuais em 2010 e se preparam para o casamento em abril deste ano. Ela, em Santos, litoral de São Paulo. E ele, em Niterói, estado do Rio de Janeiro, e, se não fosse pelo modo virtual, a probabilidade desse encontro seria pouco provável, já que amigos em comum só ocorreram no processo do jogo online.

Para ela, o sucesso da relação se deu, pois, quando se conheceram pessoalmente, já havia bastante conhecimento um do outro, devido às longas conversas que mantiveram fora do jogo, durante dois meses.  “Em algumas relações físicas, as pessoas iniciam um relacionamento sem conhecer tão bem o parceiro, sem saber nada do outro. E ninguém imaginou sair casado daquele jogo. Não era a intenção”, afirma.

Portanto, devemos viver, sim, todas as possibilidades de encontro e de amor, porém, nada substituirá as pequenas descobertas do dia a dia, aquelas singularidades do casal quando juntos, as descobertas da pessoa real, de carne, alma, temperamento e limites, que, somados às nossas particularidades, nos tornam plenos e infinitos para amar.

O amor está no ar. E online.