Não falo do amor romântico

Aquelas paixões meladas de tristeza e sofrimento

Relações de dependência e submissão, paixões tristes

Algumas pessoas confundem isso com amor

Chamam de amor esse querer escravo

E pensam que o amor é alguma coisa que pode ser definida, explicada, entendida, julgada

Pensam que o amor já estava pronto, formatado, inteiro, antes de ser experimentado

Mas é exatamente o oposto, para mim, que o amor manifesta

A virtude do amor é sua capacidade potencial de ser construído, inventado e modificado

O amor está em movimento eterno, em velocidade infinita

O amor é um móbile

Como fotografá-lo? Como percebê-lo? Como se deixar sê-lo?

E como impedir que a imagem sedentária e cansada do amor nos domine? Minha resposta? O amor é o desconhecido

Mesmo depois de uma vida inteira de amores, o amor será sempre o desconhecido

A força luminosa que ao mesmo tempo cega e nos dá uma nova visão

A imagem que eu tenho do amor é a de um ser em mutação

O amor quer ser interferido, quer ser violado, quer ser transformado a cada instante

A vida do amor depende dessa interferência

A morte do amor é quando, diante do seu labirinto, decidimos caminhar pela estrada reta

Ele nos oferece seus oceanos de mares revoltos e profundos, e nós preferimos o leito de um rio, com início, meio e fim

Não, não podemos subestimar o amor não podemos castrá-lo

O amor não é orgânico, não é meu coração que sente o amor

É a minha alma que o saboreia

Não é no meu sangue que ele ferve

O amor faz sua fogueira dionisíaca no meu espírito

Sua força se mistura com a minha e nossas pequenas fagulhas ecoam pelo céu como se fossem novas estrelas recém-nascidas

O amor brilha

Como uma aurora colorida e misteriosa

Como um crepúsculo inundado de beleza e despedida

O amor grita seu silêncio e nos dá sua música

Nós dançamos sua felicidade em delírio porque somos o alimento preferido do amor, se estivermos também a devorá-lo

O amor, eu não conheço

E é exatamente por isso que o desejo e me jogo do seu abismo, me aventurando ao seu encontro

A vida só existe quando o amor a navega

Morrer de amor é a substância de que a vida é feita.

Ou melhor, só se vive no amor

E a língua do amor é a língua que eu falo e escuto.

Paulinho Moska


Paulo Corrêa de Araujo, também conhecido por Moska ou Paulinho Moska, é um cantor, compositor e ator brasileiro.

site oficial: paulinhomoska.com.br

Foto Avery Woodard