Eu te amo como se estivesse a comer pão
polvilhado com sal,
como se levantando à noite e ardendo em febre
fosse beber a água com os lábios na torneira.
Eu te amo como se estivesse olhando para o saco pesado do correio
sem saber o que vem.
Eu te amo como se estivesse sobrevoando o mar
pela primeira vez de avião.
Eu te amo como aquele não-sei-quê dentro de mim que balança
quando o crepúsculo desce sobre Istambul pouco a pouco.
Eu te amo como se dissesse Deus seja louvado, eu estou vivo.


Nâzim Hikmet : Nâzım Hikmet Ran (Salónica, 20 de novembro de 1901 – Moscovo, 3 de junho de 1963) foi um poeta e dramaturgo turco, conhecido na Europa como o melhor poeta de vanguarda da Turquia, sendo os seus poemas traduzidos para diversas línguas, sem exceptuar o português.

Nascido em Salónica, no Império Otomano, situada no seio da actual Grécia, foi registrado a 15 de janeiro de 1902, embora tenha nascido efectivamente no dia 20 de novembro do ano de 1901, mesmo no início do século XX.

Hikmet pertenceu ao Partido Comunista da Turquia, sumariamente TKP, tendo sido por isso muitas vezes perseguido pelos realistas.

Apesar de ter escrito primeiramente poemas com sílabas métricas bem definidas, o seu género distanciou-se dos géneros dos chamados “poetas silábicos”, sendo, em parte por tal, denominado vanguardista. Pelo contrário, os seus poemas distinguiam-se pelas formas confusas e conceptuais. Aliás, todos eles contêm diversas propriedades linguísticas da Turquia.

Nunca satisfeito com o seu trabalho, rumou à URSS, onde se manteve de 1922 a 1925, na intensiva busca pelo “climáx”. Um outro motivo para ter viajado para a União Soviética foi a Revolução Soviética.

Depois de completos os seus estudos na Universidade de Moscovo cansado das competições com Vladimir Mayakovski e com outros jovens poetas soviéticos, que tendiam para o recente Futurismo, retornou ao seu país natal.

Vários trabalhos seus retratam cenas inóspitas de guerra como a invasão da Etiópia pela Itália de Mussolini

Como já foi referido anteriormente, Hikmet foi perseguido pelos defensores da monarquia e, por isso, condenado a quinze anos de prisão. Tal fez com que se refugiasse na URSS, uma mais valia, já que conhecia o país.

Depois da sua morte, em 1963, em Moscovo, diversos músicos transformaram os seus expressivos poemas em belas canções, como fez, entre outros tantos, o grego Manos Loizos.