O sim no amor é à vista.
O sim no amor deve ser definitivo.
O que irrita são as pessoas hesitantes, claudicantes, indecisas, que racionalizam a emoção e dizem sim apressadamente para ir negando aos poucos.
O sim no amor não pode ser parcial, com intermitentes recuos e progressivas desculpas.
O sim no amor é redondo, esférico, sem arestas.

O sim no amor é como o beijo – não se devolve um beijo.
O que enerva são as pessoas que dizem sim por educação e depois vão desaforando a concordância ao longo da vivência. Dizem sim e se arrependem aos goles, obliquamente, nunca revelando a sua verdadeira intenção, procurando parecer algo que não é, agradando na aparência e discordando na essência.

O sim no amor não é um talvez, não é uma possibilidade, não é uma hipótese confortável entre tantas.
O sim no amor é a renúncia das demais respostas em nome de uma só. Há quem fale sim da boca pra fora, esquecendo que quem escuta é do coração para dentro.
O sim no amor é alcançar a confiança e não pedir coisa alguma em troca, é manter a promessa mesmo na adversidade.

O sim no amor é inegociável, não muda conforme o contexto, não se adapta à carência.
O sim no amor é libertador. Nada teme porque não exige nada.
O sim no amor é a âncora da memória, tudo pode ser levado, menos este sim que fundou a convivência.
O sim, quando declinado, transforma o que foi vivido em falso, contamina o romance com a paranoia.

O sim retirado é tão grave quanto uma mentira, é tão agressivo quanto uma infidelidade, você nunca sabe se a pessoa apenas fingiu somente naquele momento ou sempre.
O sim parcelado devasta a intimidade a dois: será que o romance foi ilusão?
Porque o sim no amor é a união de dois sins, são sins mútuos, é um diálogo, não uma decisão unilateral. O sim é o namoro de duas certezas, o casamento de duas perguntas, não existe sim solitário.

Ao apagar o seu sim você estará assassinando o sim do outro lado. Ao desfalcar o seu sim, você estará subtraindo o sim do outro lado. O outro lado também é você.
Não falsifique o sim, o sim não é volúvel, o sim não é uma opinião, o sim não é um desejo passageiro, o sim não é uma disfarce para pensar com calma, o sim é um destino.
Você não diz sim, você é o próprio sim.

Se você busca contentar com um sim rápido não prevê o quanto perderá o respeito se ele virar mais adiante um não.

Não declare o sim se não acredita. Melhor um não que mude de ideia do que um sim covarde.


Fabricio Carpinejar, como passou a assinar a partir de 1998, é um poeta, cronista e jornalista brasileiro.
É filho dos poetas Maria Carpi e Carlos Nejar. Após a separação dos pais, em 1981, passou a ser criado pela mãe.[1]
Ingressou em 1990 no curso de jornalismo, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde formou-se em 1995. Pela mesma instituição tornou-se mestre em Literatura Brasileira, em 2002.
Lançou As solas do sol, em 1998. A partir desse momento une seus sobrenomes e passa a assinar: Carpinejar.
Em 2003 publicou, pela editora Companhia das Letras, a antologia Caixa de sapatos, que lhe conferiu notoriedade nacional.
Mantém o blog Consultório Poético no portal Globo.com.
Em 6 de março de 2012, estreou como apresentador do programa A Máquina, na TV Gazeta;[2].
Desde maio de 2011 mantém a coluna que antes era ocupada por Moacyr Scliar no jornal Zero Hora.
Visite o site do poeta Fabricio Carpinejar:
http://carpinejar.blogspot.com.br