O peso do mundo
é o amor.
Sob o fardo
da solidão,
sob o fardo
da insatisfação

o peso
o peso que carregamos
é o amor.

Quem poderia negá-lo?
Em sonhos
nos toca
o corpo,
em pensamentos
constrói
um milagre,
na imaginação
aflige-se
até tornar-se
humano —

sai para fora do coração
ardendo de pureza —
pois o fardo da vida
é o amor,

mas nós carregamos o peso
cansados
e assim temos que descansar
nos braços do amor
finalmente
temos que descansar nos braços
do amor.

Nenhum descanso
sem amor,
nenhum sono
sem sonhos
de amor —
esteja eu louco ou frio,
obcecado por anjos
ou por máquinas,
o último desejo
é o amor
— não pode ser amargo
não pode ser negado
não pode ser contido
quando negado:

o peso é demasiado — deve dar-se
sem nada de volta
assim como o pensamento
é dado
na solidão
em toda a excelência
do seu excesso.

Os corpos quentes
brilham juntos
na escuridão,
a mão se move
para o centro da carne,
a pele treme na felicidade
e a alma sobe
feliz até o olho —

sim, sim,
é isso o que
eu queria,
eu sempre quis,
eu sempre quis
voltar ao corpo
em que nasci.
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Nascido no dia três de junho de 1926 em Newwark, Nova Jersey, Irwin Allen Ginsberg foi um poeta beat que ficou conhecido pelas loucuras cometidas junto a seus companheiros inseparáveis: Jack Kerouac e William Burroughs. Seu livro mais aclamado e conhecido no mundo todo foi “Howl”, obra poética lançada em 1956. Ginsberg, junto a Corso, Ferlinghetti, Snyder, entre outros poetas loucos, iniciou uma revolução nos valores literários, costumes e linguagem na década de 50. O trabalho dele e dos autores citados acima ecoou na contracultura e nas rebeliões feitas pelos jovens das décadas de 60 e 70.
O volume de poesia que já tinha escrito com 29 anos era muito extenso, mas nada havia sido publicado. Isso acabou em 1955, com a publicação do poema “Howl” (Uivo).
“Uivo, após enfrentar uma tentativa de censura e processo de 1957, e suscitar críticas e repreensões tanto da direita, do estabilishment, quanto da esquerda ortodoxa, conquistou milhões de leitores”, escreveu William Carlos Williams, no prefácio de Uivo e Outros Poemas.

Foto Toa Heftiba