Foto Charlie Hang

BEIJO DE LÍNGUA

Eu elejo o beijo
a nossa mais honesta
diplomacia sem papéis.

Idioma que ligará
todas as peles
e todos os templos.

Inesperado esperanto
que deu certo.

Em prosa, em libras,
em galeanos livros
de abraços humanos
entre os generos gerais
sem os gerentes generais.

Revolução amada
que da por encerrada
a dinastia das espadas
e escudos da escada.

A palavra convertida
em coração que desafina
derruba mais cabeças
que a navalha jacobina.

Dialogamos nesse
novo mundo feito de
encontros faciais fora
das faces de redes sociais.

Na empatia
materializada em toques
entre os seres em lugares
além das telas de celulares.

E não é só beijo
romântico e erótico que nasce.
Tem também beijo de
Ubuntu e Mitakuye Oyasin.

No parto da partitura
de cifra escrita nas
úmidas junções
de quem já sabe
que aqui não cabe
códigos de Hamurabi.

Isso me sobe
o sangue quente,
não pela peleja.
Mas, para olhar
pro meu amor
e dizer: Me beija!

Pra conceber noites
solares e de manhã
descobrir que nossos
lares não são lugares

E bom dia…
Bom diAmantes, que
em correios elegantes
entrelaçam as vivências
em selinhos que revelam
as correspondências.

Nos façamos corpos
trocando gestos,
ecoando a vida vasta
pelos sábios lábios
dos pares singulares.

Te convido a conversar,
consorte ouvinte,
para receber meus versos
que nascem no céu da boca.

Não carecemos de letras!
Os signos do amar seguem
como um rio subversivo
exalando Heráclito puro
fluindo histórias interiores.

Sou você comigo em mim,
nessa comunicação que
pulsa em duas vias
de enamorados peitos
em calorosa colisão.

Te reconheço sem cartórios,
degustando territórios onde
me faço bússola sem norte
na cartografia de nós dois.
Venus
Calaremos os ruídos modernos
para sermos falantes do sentir,
desprovidos dos espetáculos
e das pirotecnias de multidões.

Pois…
É no silêncio de um beijo
que eu entendo a sua língua.


Saiba mais sobre Lews Barbosa em genius.com/artists/Lews-barbosa

Lews Barbosa
(Rapper e poeta)
O paulistano Lews Barbosa está no cenário do Hip Hop desde 1989. É um dos fundadores do grupo de rap Potencial 3.
Compôs músicas de sucesso no cenário nacional como “Mano de Fé” e “Carrapato”, esta última marcada por ser uma das primeiras misturas de Rap com samba.
Em 2003 lançou o primeiro álbum solo, “Cachorro Magro”, apenas para download, que foi seguido em 2012 pelo disco “A evolução foi criada para a criação evoluir” produzido por Neurus e Dener Miranda. Neste álbum é destacada a música “O Macaco Caído”.
Atualmente segue carreira solo e participa de vários projetos de música e oralidade incluindo os shows com as bandas Alafia, Berimbrown e StereoTupi.
Realiza um trabalho artístico que envolve a oralidade e a musicalidade presentes no Rap, incorporando influências de contação de histórias, poesia performática (Spoken Word), teatro, folclore e vários elementos do universo lúdico através do seu trabalho com banda chamado “Lews Barbosa & Erê.Ditários”.
Também escreve poesias que tornam-se, posteriormente, músicas ou conteúdo de projetos literários, como o blog “Brisas Lewsianas”.
Lews Barbosa é idealizador do projeto “Slam do Grito”, torneio de poesia falada, realizada no bairro do Ipiranga e também da “Roda de Ogó” que é um roda lúdica/ancestral de manifestação da oralidade.
Participa de outros saraus e slams. Foi campeão do Slam Sp de 2012 e participou, em junho de 2013, da “Copa do Mundo de Poesia” em Paris, França.