Eu sou a tua indômita gazela,
O trovão que rompe a luz sobre teu peito.
Eu sou o vento desatado na montanha
e o brilho concentrado do fogo do pinheiro.
Eu esquento tuas noites,
acendendo vulcões em minhas mãos,
molhando-te os olhos com a fumaça de minhas crateras.
Eu cheguei até ti envolto em chuva e recordação,
Rindo o riso imutável dos anos.
Eu sou o caminho inexplorado,
a claridade que rompe a escuridão.
Eu coloquei estrelas entre tua pele e a minha
e te percorro inteira,
trilha após trilha,
desamarrarando o meu amor,
expondo o meu medo.
Eu sou um nome que canta e te namora
desde o outro lado da lua.
Eu sou a extensão do teu sorriso e teu corpo.
Eu sou algo que cresce,
algo que ri e chora.
Eu,
a que te quer.

Gioconda Belli


Gioconda Belli  é uma poetisa e romancista nicaraguense. A sua poesia, considerada revolucionária pela sua maneira de abordar o corpo e a sensualidade feminina, causou grande revolta. O seu livro “Sobre a grama” valeu-lhe em 1972, o prêmio de poesia mais prestigioso do país nesses anos, o Mariano Fiallos Gil da Universidade Nacional Autónoma de Nicarágua (UNAM). Em 1978 junto a Claribel Alegria, obteve o prestigioso Prêmio Casa das Américas no gênero poesia pelo seu livro “Linha de Fogo”, obra que escreveu enquanto se encontrava vivendo exilada no México por causa do seu ativismo revolucionário e que reflete o seu sentimento sobre a situação política de Nicarágua. Nessa ocasião é convidada, também, a participar como júri, com o qual viaja a Cuba para ser leitora dos livros nomeados junto a Julio Cortázar

Foto Emmett Sparling