Setembro é o mês da chegada da primavera, ou melhor dizendo… “o mês do amor”? Os povos
antigos ao redor do mundo tinham uma forma muito especial de celebrar o fim dos tempos frios
de Inverno, contando mitos sobre o resgate de pessoas amadas do Mundo Inferior e dançando
em festivais repletos de simbolismo sobre casamento, união e sexualidade.

Para compreender melhor, é importante lembrar que o desabrochar das flores e o
amadurecer dos frutos eram muito associados com o período fértil da mulher e seu
amadurecimento. Por essa razão, a primavera é a “estação mítica do amor”, pois marca o
momento em que, antigamente, as deusas donzelas uniam-se a seus amores e marcavam o
começo de um novo ciclo da vida.

Os gregos contavam a velha história de amor entre Hades e Perséfone. Ele, o rei do
Mundo Inferior — local para onde todos os mortais iam ao fim de suas vidas — nunca havia
antes reclamado esposa alguma para si. Era um deus sombrio e melancólico, senhor de um
reino profundamente frio e cheio de lamúrias; Hades era o próprio Inverno, seco e sem vida.

Entretanto, algo mudou quando, em uma tarde visitando o Olimpo, o deus foi apresentado à
sua sobrinha Perséfone — filha de Zeus, senhor dos céus, com Deméter, deusa da agricultura.

Alguns dizem que Eros, deus do amor e filho de Afrodite, estava pregando outra de
suas peças quando o deus dos mortos afirmou não ser capaz de se apaixonar por ninguém.
Seja como for, Hades desejou o coração da filha única de Deméter, a menina de seus olhos, e
não havia desafio maior do que aquele. Mas é difícil lutar contra o amor arrebatador quando
esse atinge mesmo os deuses e o casal fugiu para o Mundo Inferior na calada da noite. Para
que pudesse ficar no reino dos mortos para sempre, Perséfone comeu uma das romãs do
jardim de Hades na cerimônia secreta de seu casamento. Dessa forma, nenhum deus entre o
céu e a terra poderia tirá-la dos braços do amado.

Deméter, irada, sentiu a falta da filha com o mais poderoso dos pesares. Lançou secas
terríveis sobre as plantações, evocou furacões e pragas das mais mortíferas. A terra ficou
infértil e morta. Zeus preocupava-se; não poderia trazer Perséfone de volta, pois ela havia
comido as romãs, mas também não tinha como deixar o caos reinar sobre a Terra. Desceu com
a deusa da agricultura até o reino do irmão e propôs um pacto aos recém-casados: durante
metade do ano, Perséfone ficaria no Olimpo, na companhia da mãe; na outra metade, viveria
com o marido no mundo dos mortos.

Assim criaram-se as estações. Quando Deméter estava com a filha, toda a terra vibrava
em vida e alegria; era época da primavera. O resto do ano, no entanto, era seco e frio; era
Inverno. Logo, mais de um amor vinha à tona quando o mito de Hades e Perséfone era cantado
pelos menestréis. A profunda dor em perder uma filha fez a deusa da agricultura mover
montanhas. Todos nós, bem no íntimo, carregamos um pouco da primavera quando amamos
nossos parceiros e parceiras com imenso ardor; mas também atravessamos o inverno, quando
deixamos para trás nossa família, nossa casa e nosso “eu” mais jovem para desbravar um
mundo desconhecido com pessoas nova