São estes, misteriosos tempos de solidão. A solidão do trabalho, do transporte público, do lar; a solidão dos e-mails, das mensagens, dos likes; a solidão de não ser ouvido, de não ser considerado importante. É a tragédia do anonimato público.
A pior solidão é aquela em que, sendo livres para amar, não amamos ninguém. E, amando, não somos correspondidos. Sendo correspondidos, não sabemos lidar com a relação, e perdemos. Esta é a solidão da inabilidade em lidar com o amor: um estado de espírito sempre ansioso causado pela constante proximidade com a possibilidade do amor que não se concretiza nunca.
A solidão que não vai embora adoece. Apodrece o corpo. Corrói a mente de canto a canto. Enferruja as articulações. Deprime, enfraquece e destrói. Aquele que ama em solidão sofre mais. É rejeitado. E, pela rejeição, sucumbe às trevas da própria imaginação. Vaga pelas ruas com um sorriso no rosto e uma alma entristecida. É tomado por um amargor no paladar. Uma constante náusea sem motivo, que aparece pela manhã, depois do almoço e, quando chega à noite, se apossa do sono. De vez em quando, surge a inveja das flores que nascem.

A solidão que nunca se vai é a maldição daqueles que estão destinados ao amor.
Estes, são tempos de solidão. Mas não deveriam ser. Somos livres para fazer o que quisermos, quando quisermos e como quisermos. Livres para nos expressarmos. Livres para sermos o próprio sonho. E, no entanto, aprisionados em nós, solidões inconvenientes nos invadem. Se o amor cura, como fazer? Não existe, talvez, nenhuma receita.
O amor que aniquila a solidão é tão misterioso quanto estes misteriosos tempos de solidão.