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Fotografia Averie woodard

Tentar amar é igual a tentar ser natural.

O amor próprio não é a causa primária do sentimento de felicidade, é a consequência de algo que já aconteceu internamente. Podemos pensar no amor enquanto poesia, filosofia, psicologia, biologia e misticismo. Na verdade, existe apenas enquanto percepção individual nas relações, em experiência e prática, com algumas características comuns. 

O “Amor Próprio” se tornou um produto, mesmo quando não monetizado diretamente. Afinal, a falsa ideia de que sempre podemos escolher o que sentimos, e não sentimos, representando nossas neuroses nas redes sociais, influencia as realidades social e individual na qual vivemos. Tenhamos ou não consciência disto.

Se quando bebês e crianças, temos cuidado básico suficientemente bom com amor, somos permitidos e estimulados a expressar emoções brincando (isso inclui agressividade), e aos poucos também em palavras (sem repressão), com determinados atos contidos (contenção), somos privilegiadíssimos! Quantos de nós já falou e escutou de alguém para não sentirmos medo, para “esquecermos isso”, que “basta querermos para melhorar”, e coisas do tipo? Pois é … Aí começam muitos problemas. Para a maioria da gente, aprender comunicação verbal saudável é suficiente para prevenir e tratar sintomas psicológicos relacionados, também, à falta de amor próprio. Assim, nos afastamos da compulsão (descontrole de atos) e baixa capacidade de raciocínio, rumo a saúde mental e liberdade.

Autoestima não vende em loja de conveniência e websites, nem surge a partir de exorcismo existencial (tentar expulsar emoções e pensamentos desagradáveis em momentos livres de tarefa invés de vivenciá-los e falar sobre) e adestramento comportamental (modificar comportamentos “na marra” sem a devida experiência e reflexão quando não há extrema gravidade). A maior parte de nossa mente é processada de forma inconsciente. Parafraseando Philippe Destouches: “Expulsai o natural e ele voltará a galopes.” 

Sentir raiva e até ódio de si mesmo em algum momento faz parte da vida de quem se ama de forma saudável, assim como alegria, orgulho, compaixão. O amor excessivamente narcísico por si mesmo e por outras pessoas é psicopatológico e infantil.

Hábitos de vida e relações sociais saudáveis, contato com arte, natureza e alguma forma de espiritualidade podem colaborar para o desenvolvimento do amor próprio. E, sabendo que sabemos ou não, todos temos alguma forma de espiritualidade (da forma como é definida atualmente), com ou sem religiosidade. A questão é que as escolhas saudáveis partem de aceitação, autoconhecimento e conhecimento, e a saúde perfeita é um ideal, logo, não existe de fato!

Hábitos de vida e relações sociais saudáveis, contato com arte, natureza e alguma forma de espiritualidade podem colaborar para o desenvolvimento do amor próprio

 

Em nossa cultura do “faz de conta”, muitas vezes “decidimos” – mesmo que inconscientemente – não vivenciar e nem verbalizar emoções em momentos apropriados. O resultado, é como disse Cazuza: “amor inventado”. Se não amamos a nós mesmos não somos capazes de sentir amor saudável por outras pessoas. As ideologias fazem a festa! Nada como dar uma identidade pronta a uma pessoa com o EU desfigurado ou inexistente! É claro que em alguma medida todo amor é inventado!

A vida é imprevisível. Quando de repente, entra aquela ventania inesperada por uma fresta da janela e levanta toda a poeira de palavras acumuladas embaixo do tapete, o falso amor próprio pode dar lugar ao vazio existencial, muitas vezes gera desespero e sentimento insuportável de desamparo. Doenças físicas, ansiedade, depressão, e por aí vai…

As ilusões e as mentiras são bem ilustradas no Instagram. As redes são como chaves de fendas: podem apertar parafusos que sustentam uma relação de amor, como por exemplo, familiares, amigos e casais tendo encontros virtuais durante a pandemia, e até pessoas que fizeram amizades virtuais que podem vir a se tornar mais concretas. A mesma ferramenta pode ser utilizada para charlatanismo, agressão, fomentar alienação e fanatismo: formas de representar o próprio mau-caratismo e/ou doença psicológica.

As ilusões e as mentiras são bem ilustradas no Instagram.

 

É importante que nos conscientizemos de que TODAS e TODOS de nós que expõe a própria imagem, descrição e explicação relativas à mesma, criam um “EU ideal” desejando, com e/ou sem consciência, que os outros, e até nós mesmos, acreditemos ser esse ideal, que pode ou não estar muito distante do que somos e de como estamos. As redes geram efeitos fisiológicos, psicológicos, comportamentais e sociais. Como disse o médico e físico alemão Paracelso: “A diferença entre o remédio e o veneno é a dose.”

O problema não é o potencial humano para desenvolver e consumir tecnologia; é a forma doentia como a maioria de nós se envolve com isso. Em maioria, estamos idiotizados, sobretudo por não nos permitirmos sentir e não sabermos nos comunicar na vida real. Muitos “estudam” apenas no Instagram e se posicionam com certezas em questões sobre as quais não fazem a mínima ideia, mesmo tendo oportunidade para buscar conhecimento sólido, ou apenas ter contato com a própria ignorância num determinado tema e se calar. Em alguma medida, estamos todos e todas afetados. 

O amor próprio é um processo interminável que parte da aceitação, do contato com tudo aquilo que EU estou sentindo agora, percorrendo corpo e alma na natureza, sem juízo de valor: é o que é! A partir daí, penso, decido falar e calar, agir e não fazer nada; Aqui Agora!

É me permitir sentir sem obrigação de tentar escolher o que sinto nem transformar em ação. É possível e natural sentir vontade de beijar e tirar a roupa de outra pessoa num encontro profissional, ter contato com as minhas emoções, falar para mim mesmo em silêncio e só. Por que eu negaria a mim a minha própria verdade?

Quem seria capaz de acreditar nisso tudo piamente? Temos um inconsciente! Podemos melhorar a nossa relação com ele!

Quase sempre há tempo – mesmo com idades elevadas – para despertar em relação a si mesmo e ao mundo, rumo à liberdade, irmã gêmea do amor próprio e da saúde mental, partes das nossas percepção e imaginação em conexão com nosso corpo. São lindas em cada alegria e dor que fluem enquanto vida que pulsa. 

O amor próprio nutre-se do quanto de mim – que nunca será tudo – pertence a minha consciência e ao meu corpo, e de uma liberdade incalculável e suficientemente boa para a minha inconsciência se manifestar criando, construindo e destruindo, sem prejuízos graves ao próximo e a mim mesmo. Amor é arte que surge. Respeito é uma obrigação que precisa ser ensinada e aprendida. Desrespeito merece punição!

Existo, logo sinto e penso!

 

Sugestão para reflexão

– Minha coluna com todos os artigos https://www.venus.digital/author/raphael-pita/

– O que é uma neurose? http://loganalisepro.blogspot.com/2011/08/o-que-e-uma-neurose-e-necessidade-do.html

– Como funciona a comunicação saudável (Loganálise)? https://loganalisepro.blogspot.com/2017/05/the-loganalytic-project.html

– Comunicação saudável e cultura do bem-estar https://loganalisepro.blogspot.com/2005/12/loganalise-e-cultura-do-bem-estar.html

– Espiritualidade em duas linhas. https://pt.wikipedia.org/wiki/Espiritualidade

– BBC Brasil: O surpreendente efeito da positividade tóxica na saúde mental. 

https://www.bbc.com/portuguese/geral-55278174

– Sobre os malefícios do “pensamento positivo”. https://loganalisepro.blogspot.com/search?q=pensamento+positivo

– Autoestima e literatura de autoajuda. 

 https://loganalisepro.blogspot.com/search?q=literatura