As Górgonas eram criaturas horrendas que habitavam o Extremo Ocidente, uma terra de sombras e eterna noite. Segundo o poeta Hesíodo, eram Euríale, Esteno e Medusa, filhas de Fórcis e Ceto, monstros que habitavam os profundos oceanos. Nós a conhecemos por seus cabelos serpentinos, pele escamosa, dentes afiados e olhar petrificante.

No entanto, a única capaz de transformar mortais em pedra com seu olhar, era a Górgona que mais conhecemos: Medusa, mortal entre as irmãs. E, apesar da origem atribuída por Hesíodo, existe uma outra versão do mito, que afirma:nem sempre seu semblante fora tão horrendo, nem os olhos tão fatais.

Medusa, segundo esta versão, nasceu uma belíssima mortal. Ela era sacerdotisa de Atena, deusa da sabedoria, da estratégia bélica e da técnica artesanal. É importante ratificar que Atena é uma deusa com princípios masculinos muito fortes ― não é incomum, uma vez que ela nasceu já adulta do crânio partido de Zeus, portanto, “não conhece mãe alguma”, não conhece princípio feminino. Por esta razão, é uma deusa que renuncia absolutamente a sua sexualidade. Atena é representada sempre de armadura, escondendo os seios e suas curvas femininas.

Enquanto sacerdotisa de Atena, Medusa renunciara a prática sexual. Foi sua fé incondicional que a fez recusar todas as investidas de Posídon, deus do mar e dos terremotos. No entanto, fugir da fúria e do desejo oceânicos do deus era impossível. Enraivecido, Posídon violentou a moça dentro do templo de Atena, sua rival divina.

Atena amaldiçoou Medusa por ter maculado o espaço sagrado de seu templo, tão ofendida com o ato que lançou-lhe a azaração com os olhos vendados para não ver a jovem nua. Condenou Medusa a uma aparência monstruosa, com cobras no lugar dos cabelos, dentes de javali e semblante tão apavorante que transformaria em pedra quem a fitasse.

As serpentes são símbolos fálicos, na interpretação de alguns estudiosos, e, fatalmente, são a nossa primeira lembrança quando pensamos em Medusa. Personificada pela terrível violência sexual que sofrera, a jovem virgem transforma-se num monstro fálico, muitas vezes representada como uma serpente de fato. O olhar petrificante, outra característica marcante da Górgona, também é símbolo da incapacidade de mover-se ou defender-se, a transformação em pedra com a qual sofre uma vítima como ela.

Imagem: Caveman.