Rompimentos são difíceis, sempre. Especialmente em relacionamentos duradouros, tomar a decisão de terminar pode demorar, e muito. Por vezes permanecemos muito tempo, até mesmo anos em um relacionamento que já não nos satisfaz, que nos tira muito mais lágrimas do que sorrisos. Ficamos muito tempo fantasiando com o término antes de efetivamente terminar. Por vezes se passa uma vida inteira fantasiando sobre um término sem nunca efetivá-lo. E é normal que seja necessário tempo de maturação para tomar uma decisão tão importante, pois, apesar da frustração na relação atual, o rompimento configura a solidão como um risco real. A decisão torna-se ainda mais difícil quando ainda existem sentimentos amorosos pelo par: não bastasse o reencontro com a condição de estar só, o término configura a perda do afeto. Dói, muito. Além disso, não é incomum o surgimento do medo de não encontrar outro alguém que se torne nova fonte de afeto e apazigue a solidão.

Sim, há muito em jogo, e por isso mesmo a decisão é tão difícil. Nós nos apegamos a certas possibilidades em detrimento de outras pelo medo de desaparecerem nossas pretensões de segurança. A angústia provocada pelo nosso desabrigo existencial essencial está na raiz desse medo. Para aplacar essa angústia e medo, desenvolvemos uma compulsão por controle e segurança, ferramenta ilusória frente à essência de nossa existência, que se constitui na medida em que somos, sem possibilidade de previsões e cálculos. Se abrirmos mão da ilusão do controle do devir, podemos vislumbrar o que Martin Heidegger chama de “abertura” e perceber que somos e estamos continuamente em aberto. Nossa existência é de fato um leque infinito de possibilidades.

                Somos condenados à liberdade, dizia Jean-Paul Sartre, que nos fala da angústia de nos percebermos completamente livres e responsáveis pelas consequências de nossas escolhas.

Não há garantias de acerto nem possibilidade de prever certamente os resultados. Então nos resta respirar fundo e encarar viver: equilibrar-se constantemente entre escolhas e consequência, como nos ensina Sartre. O medo de perder uma suposta segurança, o medo da solidão e em verdade qualquer tipo de medo é conservador e pode ser paralisante. Mas ao invés de olharmos para o que vamos perder quando de um rompimento, podemos escolher olhar para o que estaremos ganhando: em primeiro lugar, a libertação do sofrimento. De início o sofrimento é enorme, podendo ser até devastador. Perder o afeto de alguém que ainda amamos pode ser como morrer, e por vezes é mesmo. Faz-se necessário um luto. Mas passa. Se você não fugir da dor desse luto, se fizer contato e se permitir vivenciá-lo, ele passa. Só é possível atravessar a dor fazendo contato com ela. Então você pode escolher sofrer em doses homeopáticas a vida inteira ou sofrer profundamente, vivenciar de fato o luto e finalmente se libertar daquele sofrimento para sempre.

Além disso, você ganha também a possibilidade de estar disponível para um novo encontro amoroso, pois a menos que você não esteja em um relacionamento monogâmico, a possibilidade de encontrar outro par que melhor satisfaça suas necessidades e te tire muito mais sorrisos do que lágrimas só pode se dar se você estiver disponível e desimpedido para viver um novo amor. Você tem esperança de que esse novo encontro ocorra?

Não, não há garantias – mas o medo é tão conservador quanto a esperança é revolucionária.