A palavra casamento é derivada de “casa“, enquanto matrimônio tem origem no radical mater (“mãe”), seguindo o mesmo modelo lexical de “patrimônio“. Também pode ser do latim medieval casamentu: Ato solene de união entre duas pessoas, capazes e habilitadas, com legitimação religiosa e/ou civil.

Segundo pesquisa do IBGE 2015, o índice de casamentos no Brasil cresceu em relação ao ano anterior em 5,1%: mais de 53 mil casamentos em comparação com o ano anterior. Na média, o País registrou dois casamentos por minuto no ano.

Mas há uniões que fogem das estatísticas. Alguns casais têm optado por se casarem, sem juízes nem vínculo religioso, em cerimônias sem fins legais, porém carregadas de emoção e legitimação poética. Novos tempos, novas formas de união.

 

Maria Rezende é poeta, atriz, montadora de filmes e celebrante de casamentos desde 2003, quando foi convidada pela primeira vez a conduzir poeticamente a cerimônia de casamento de um casal de amigos.

 

VÊNUS: Você é atriz e poeta. Qual a sensação de falar poesia em um palco, a de vestir uma personagem e a de celebrar um casamento com poesia? Há semelhanças?

Maria Rezende: Os casamentos para mim são um desdobramento da minha vida de poeta, de performer de poesia, mas, de um jeito mais especial, por ser um dia único para as pessoas. Quando estou em cena e esqueço alguma coisa, ao invés de ficar nervosa e me confundir, eu tenho jogo de cintura para lidar com a situação. Já no casamento existe a expectativa de que tudo seja perfeito. É uma pressão extra sobre mim e também um momento único. Cada casamento só ocorre uma vez, e os espetáculos se repetem, por isso há o frio na barriga causado pela novidade. Na celebração de casamento, é tudo mais emocionante.

VÊNUS: No primeiro contato com seus clientes, o que vc identifica de mais grandioso ao planejarem o casamento?

Maria: Em geral os casais que me contratam são mais informais, mas, apesar disso, nos casamentos, mesmo quando são bem artesanais, os planos e sonhos são sempre grandiosos, no sentido de que tudo seja lindo, incrível. Os casais valorizam muito a cerimônia ao escolherem uma celebrante laica, que foge dos padrões. São pessoas que escolhem cerimônias personalizadas.

VÊNUS: Há alguns anos, com a emancipação da mulher e sua independência, muitos casamentos passaram a ser informais, ou seja, sem contratos, testemunhas e celebrações. Você acredita que há um resgate do romantismo na atualidade, visto que há uma crescente procura por celebrações de matrimônio?

Maria: Sim, há sempre a tentativa de que a cerimônia seja a cara do casal, que não seja padrão. Percebo que as pessoas sentem que, para fazer o padrão, não é necessário uma cerimônia. Podem simplesmente morar juntas numa união estável. Por isso acredito que há, sim, esse desejo mais romântico, de algo que seja a cara deles, que todos que estejam presentes reconheçam aquela história de amor.

VÊNUS: Desde a Resolução 175 do CNJ, de 2013, mais de 10 mil casamentos homoafetivos foram realizados em todo o território brasileiro. Você já realizou algum casamento poético entre pessoas com a mesma orientação de gênero?

MARIA: Sim, já realizei o casamento de dois homens e o de duas meninas. E foi muito especial, principalmente o casamento das meninas, muito militantes da causa. Uma delas falou sobre a importância de casar, do apoio da família, e o outro casal, de rapazes, que estavam juntos há dez anos, foi um casamento supertradicional, o mais tradicional que ja fiz, por que eles tinham o desejo de se casarem com tudo que tinham direito. Fico muito feliz quando sou convidada para celebrar casamentos assim. E que venham  muitos mais, porque somos todos humanos e merecemos ser felizes. Que bom que as leis estão acompanhando esta realidade do amor.

VÊNUS: Maria da Poesia, Maria Casamenteira, Maria Maria – “uma mulher que merece viver e amar como outra qualquer do planeta”. Quantas Marias te habitam?

Maria: Muitas Marias. Tem a Maria poeta; a Maria celebrante de casamentos, que é um desdobramento desta primeira; a Maria montadora de filmes, que é minha outra profissão; e a Maria pessoa física, com sonhos e desejos como todas as outras.

VÊNUS: Para finalizar: a poesia e o amor sempre caminharam juntos, ainda quando o amor é transfigurado pela falta do mesmo. Gostaria de um poema seu que representasse o que pra você significa o amor.

Maria: Casar

Pode ser uma prisão ou uma ponte
pode ser um deserto ou uma fonte
um lugar novo ou um ponto final

Pode ter loucura, pode ter dureza
pode ser difícil e uma delícia
pode ter tristeza, tédio, encantamento
tudo o que há de bom e um pouco do ruim

Pode ser insistência ou sonho
pode ser esperteza ou sorte
pode ter mil convidados ou só um olhar sincero
porque casar não começa quando se casa

Casamento é quando a parceria é tão boa
que não importa roupa, não precisa bolo
pode ser no padre, no banco ou no juiz
porque o sim mora dentro da felicidade dos dias

Casar é ser feliz sozinho, mas preferir junto

Por isso, a festa


Foto: Graviola Filmes

Para conhecer mais o trabalho de Maria Rezende:
www.casarcompoesia.com
www.mariadapoesia.com