Nem grega nem romana, mas tal como as deusas Afrodite e Vênus no Olimpo, essa carioca filha de alemães andou virando a cabeça de muitos mortais e “semideuses” frequentadores do Arpoador há algumas décadas atrás. Linda e autêntica, Ira Etz inspirou e continua inspirando muita gente até hoje.  Basta lembrar da quantidade de fãs de várias gerações que ela arrastou para a Livraria Argumento na badalada noite de autógrafos de seu livro “Ira do Arpoador”.  Sempre radiante, Ira continua bela e com seu contagiante entusiasmo pela vida, que se reflete em suas constantes reinvenções de si mesma, em sua poesia, em sua arte, em sua alegria e coragem de ser totalmente o que ela deseja ser e pronto! Atributos que fazem dela uma verdadeira Diva inspiradora no alto dos seus recém-completados oitenta anos “cheios de vida”. Aprendam, mulheres: a verdadeira chama da beleza não depende de idade, cor, peso, altura ou traços, mas da capacidade de tornar-se uma pessoa plena. O resto é mar.

foto: Thereza Eugenia

E mar não falta em sua biografia, que pode ser lida neste delicioso livro, misturando as memórias de Ipanema, onde ela nasceu e floresceu. Ira fez história como uma das musas da bossa nova, amiga de João Gilberto, Tom Jobim, Ronaldo Bôscoli, Nara Leão, Millôr Fernandes, namoradinha de Arduíno Colasanti, esposa de Pedro Paulo Couto, enfim, confessa que deixou sua marca nas areias de Ipanema e no coração de muitos personagens daqueles inesquecíveis anos dourados. Por essas e outras, foi incentivada pelos amigos a lançar um livro sobre suas recordações e, com a ajuda do jornalista Luiz Felipe Carneiro, fez nascer o livro Ira do Arpoador. 

Durante a longa pesquisa para resgatar seu passado, Ira conta que, ao entrar em contato com seus antigos diários, teve a sensação de estar abrindo sua “caixa de Pandora”. Ali reencontrou-se com os relatos de seus dias, sempre acompanhados por muitos comentários que anotava, tudo muito bem documentado, mas num tom de relato. Faltava a “voz” das sensações e percepções causadas por cada acontecimento narrado. Um universo sensorial e sensual, que estava guardado ali, veio à tona quando ela “arrancou a tampa desse balde cheio de histórias”, revela Ira com certo assombro. Quando se viu inundada por essas sensações, conversou com outras mulheres e com uma psicanalista, indagando se era natural existir ainda essa aura erótica aos quase oitenta anos. “Pode uma mulher de mais de setenta anos sentir-se erotizada ou estou gagá?”. Confessa que no começo ficou preocupada se esses pensamentos eram ridículos e resolveu então criar seus personagens para ser livre: “Chamei um personagem de Amor, e brinco com ele, faço bilhetes para o amor-personagem. Estou experimentando ser assim. Sou casada há muitos anos, a vida toda, mas não chamava de amor o meu marido, agora já o estou chamando de amore, e ele gostou, parece que eu me encontrei, eu nem sabia que eu era assim. Incrível que a essa altura eu me expanda tanto. A  sensação é que agora eu sou eu pro que der e vier!”, conta animada. Deu até pra escrever poemas. Ira lançou seu primeiro livro só de poemas Sou Eu. O livro fluiu desse balé de emoções que a envolveu e que a fez desvendar uma linguagem mais poética, que descobriu existir nela. Depois de muitos questionamentos, decidiu permitir-se viver feliz e leve nesse mundo mais lúdico e livre. “A verdade é que tenho adorado experimentar outras facetas de mim mesma e acho importante divulgar isso, porque existem pessoas que compartilham com as minhas ideias. Todo mundo tem isso, todo mundo tem muitas possibilidades. É libertador não ter vergonha de ser mulher, de ter desejos, de ter pensamentos eróticos e fantasias. Nós vivemos nos controlando, preocupados com o que o outro vai achar. Você vive bem melhor quando se aceita como você é, e as pessoas que convivem com você também. Apesar do andar da carruagem, sinto que posso ser o que quiser. Posso ser uma cronista, por que não? Quem determina o que pode e o que não pode? No meu caso não é nada forçado. Eu posso escrever tanto de uma forma melancólica como sensual, depende do dia. Temos que escutar o nosso corpo. Pode não acontecer nada, mas você pode tudo na sua fantasia.”

 

SINOPSE: Ira Etz

Estou velha, nem quero me olhar.

Dentro carrego uma menina.

Falo para ela ficar escondida.

Quando estamos sozinhas,

ela sai do esconderijo, iluminada,

vem se alongando, desamassando,

então dançamos, e ela ri.

As rugas desaparecem.

Não noto meus cabelos brancos.

Agora, sim, o espelho é mágico:

nós duas estamos juntas,

somos uma só.


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