Sobre o livro 

“Alguma coisa sempre esteve para acontecer” baseia-se na jornada dos arquétipos do Tarô de Marselha para contar um pouco da história pessoal da autora, refletindo dramas comuns às mulheres de sua geração. Os 22 arcanos maiores do Tarô foram interpretados em colagens analógicas por Leïlah Accioly e para cada um deles foram escritos três poemas, resultando num verdadeiro jogo para os leitores e leitoras que, se abrirem o livro a esmo, poderão encontrar inspirações e provocações para seu momento particular. “Gosto de pensar que eu, uma apaixonada por jogos de palavras, construí um livro que pode ser lido como um jogo poético”, afirma a autora.

Do Louco ao Mundo, primeiro e último arcanos maiores do Tarô, desenha-se a história de uma mulher em busca de sua identidade e autonomia, rompendo padrões e desafiando fórmulas. O formato do livro é um desses desafios, por cruzar poesia com artes visuais, assim como seu evento, Sarau Eletrônico. Esse caráter multimídia de sua estreia literária foi bem abordado pela também poeta e colagista, Claudia Roquette-Pinto, que assina a orelha, concluindo que “é assim que o trabalho de colagem, sutentando-se por si mesmo, também se estende generosamente numa espéciede conversa tête à tête com os poemas, os quais, como muito do que escreve esta multifacetada artista, tambémtratam ‘das perguntas que fazemos do alto da nossa experiência feminina.’

“Minha poesia segura a espada de um lado e a balança do outro, assim como a carta da Justiça”, define a criadora. “O que escrevo se equilibra entre uma sanha de justiça furiosa, já que minha história pessoal é profundamente marcada pela perda, e uma fé inabalável naquela vida melhor no futuro, vide o título”, entrega.

Passado, presente e futuro parecem se entrelaçar tanto na poesia quanto nas colagens, que bebem de imagens arquetípicas e da cultura pop tiradas de revistas e livros  antigos e contemporâneos. Símbolos atemporais e correntes são remixados de forma a fazer referência ao zeitgeist atual. “Na carta da Torre Partida, por exemplo, uso uma imagem do World Trade Center. Na carta do Mundo, em vez de uma mulher, uso a imagem de um ser fantástico que une os dois gêneros”, aponta.

O livro contou com dois preparadores de texto, Alexandre Arbex, autor de “Da utilidade das coisas” (7Letras), finalista do Prêmio Jabuti 2018 na categoria Conto, e Fernando Naporano, poeta com diversos livros publicados e jornalista cultural que foi um dos mais importantes críticos musicais do país nas décadas de 1980 e 90. Sobre a estreia de Leïlah Accioly, Alexandre Arbex escreveu: “A poesia de Leïlah Accioly é um passeio em estado de vertigem por uma cidade que se destrói e se reinventa a cada mirada, a cada esquina. Seus versos têm a pulsação veloz de uma fuga bachiana e a fotografia fragmentada de um videoclipe. Incondescendente, avessa ao ameno e à trégua, sua poesia atravessa o idílio decaído da babilônia brasileira reagrupando seus escombros em formas breves, em imagens instantâneas que brilham e logo se dissolvem nos excessos, na infinita acumulação do presente. Entre o desejo e o estupor, entre o banquete e a guerra, a poesia de Leïlah Accioly faz nesse livro sua estreia em voz alta.”

Sobre a autora:

Um caminho multifacetado e solitário, ao mesmo tempo. Leïlah Accioly nunca se filiou a nenhum grupo, nem teve blog como seus pares de geração, também não construiu vida acadêmica, preferindo a rota da independência. Dentro dessa rota, ela encontrou as mais diversas expressões para seu talento multimídia: foi jornalista, DJ, cofundadora e articulista da pioneira revista eletrônica feminista Vertigem, curadora e criadora de eventos, dirigiu exposições e hoje, se divide entre a carreira literária, a edição de texto da revista O’Cyano e a direção criativa de seu estúdio de design e marcenaria digital, Movendo.

“Aquela que nunca se contentou com as glórias  nem aceitou as tragédias do passado de sua família, e quis construir um presente diferente, sempre com os três olhos no futuro”, assim se define a autora. Vinda de uma família tradicional de políticos e diplomatas, bisneta do poeta modernista Ronald de Carvalho, e prima do poeta marginal do coletivo Nuvem Cigana, Charles Peixoto, Leïlah conviveu desde cedo com grandes contradições, entre ideias progressistas e práticas conservadoras. Isso se reflete na sua poesia, criada sob o signo do conflito.

À venda no site: chiadoeditora.com