Romântico, inquieto, reservado. Zack Magiezi é um escritor paulista de 35 anos que, em um mundo de likes e compartilhamentos, teve seus textos e pílulas poéticas viralizados na internet. Atualmente, possui uma marca impressionante de quase 1 milhão de seguidores no Instagram e mais de 600 mil em seu facebook.

Nesta entrevista para a Vênus Digital, o autor dos livros ESTRANHEIRISMO (2016) e NOTAS SOBRE ELA (2017), ambos publicados pela Editora Bertrand, nos fala sobre a sua trajetória, suas influências, sua repercussão nas redes sociais e sobre o amor.

VÊNUS DIGITAL: Quem é o Zack Magiezi?

Zack Magiesi: Eu me chamo Izaias Magiezi Junior, sou de São Paulo capital, morei em algumas cidades, principalmente, no Estado de Minas Gerais (Leopoldina, Cataguases e Belo Horizonte) e também em Salvador. Passei por alguns cursos universitários (ADM, Teologia, História e Letras), mas não concluí nenhum. Trabalhei como segurança em uma loja, vendedor de peixes, perfumes, malas, depois trabalhei como auxiliar administrativo e fui passando por sucessivas promoções, até chegar a coordenador. Depois abandonei tudo, como é do meu feitio.

VÊNUS: Como começou a sua carreira de escritor?

Zack: Comecei com um pequeno blog no fim de 2013, com escritos confessionais de quem não soube lidar com o fim de uma história de amor. Acho que este deve ter sido o começo de muita gente.

VÊNUS: Quais as suas influências literárias? Qual o seu livro ou escritor de cabeceira?

Zack: Gosto muito de ler. Meus escritores do coração são Julio Cortázar, Borges, Gabo, Wisława Szymborska, Hemingway, Virgínia Woolf, Machado, Leminski, Chacal… No momento, estou lendo “Confissões de um jovem romancista” do Umberto Eco. Estas pessoas me fascinam.

VÊNUS: Fale um pouco sobre o seu processo criativo.

Zack: Eu simplesmente não consigo ficar parado, a ideia do repouso me aterroriza, sempre sinto que tenho pouco tempo e isso me coloca em um estado de urgência (o que não é bom). Eu não tenho processo definido, começo coisas, largo no meio e começo outras e depois retorno. Eu preciso criar uma disciplina, estou tentando não ser tão caótico e maturar mais os meus trabalhos.

VÊNUS: Você tem quase 1 milhão de seguidores, o que é faraônico para um escritor. Como conseguiu atingir uma marca que, geralmente, só as celebridades da TV e da música conseguem alcançar?

Zack: Eu não sei, apenas aconteceu, foi e é ainda meio assustador. É um grande paradoxo, pois na minha vida estou quase sempre sozinho. Eu não sei explicar, vejo pessoas com  estratégias, pedindo likes, postando no horário x, hashtags etc. Não fiz nada disso, apenas aconteceu.

VÊNUS: Você tem dois livros publicados. O que mudou na sua vida após migrar para o livro impresso?

Zack: Receber um pagamento e poder tirar dali o seu sustento. Também mudou a maneira com que eu encaro o ato de escrever: quero desenvolver um caminho, uma linguagem, quero dar o meu melhor para o leitor, quero encontrar uma voz que seja reconhecida.

VÊNUS: Qual o tema do seu primeiro livro ESTRANHEIRISMO?

Zack: É uma coletânea dos textos diversos que já tinham sido publicados nas redes sociais. Ele é um instagram de papel.

VÊNUS: Seu segundo livro, NOTAS SOBRE ELA, foi escrito para uma mulher específica?

Zack: Não foi para nenhuma mulher específica e, sim, para diversas mulheres que encontrei pelo meu caminho: minha mãe, minhas avós, tias, amigas, namoradas, desconhecidas em um café. “Notas sobre ela” é uma singela fotografia e, como toda fotografia, não diz tudo, mas diz algo. O livro não quer descrever a vida de alguém, apenas pequenas memórias, “Notas sobre ela” é um livro sobre o tempo.

VÊNUS: Como é ser escritor no Brasil? Você tem muito reconhecimento público, mas toda essa projeção nas mídias sociais te possibilita a viver de literatura?

Zack: É difícil, as pessoas ainda não tomaram consciência de que todo escritor vive da venda dos seus livros. Apesar da boa vitrine de divulgação, o número de venda dos livros é pouca se comparada à quantidade de seguidores, fora a questão dos eventos, palestras e etc,. As pessoas preferem pagar um cachê astronômico para um Youtuber, do que um cachê digno para um escritor. Eu estou na luta, já pensei em arrumar algum emprego e escrever apenas por prazer, mas vou tentar mais um pouco.

VÊNUS: Existe um número cada vez maior de novos autores publicados que também surgiram das redes sociais. Você acha que existe um apoio mútuo entre os novos autores?

Zack: Acho que não. Infelizmente, existe uma vaidade estranha de autores que conceberam uma ideia de “concorrência”: “qual perfil tem mais seguidores?” “Quantas curtidas em média fulano tem?” “Preciso de engajamento!” Coisas assim. Na verdade, uma boa parte desses escritores estão preocupados com a sua imagem, em ser amigo de celebridades e ganhar mimos das marcas. Escrever é uma atividade solitária, a internet é uma ferramenta importante para divulgação de novos autores e seria muito legal se existisse um “movimento” (existem algumas exceções), mas eu acho que cada um fica no seu mundo.

VÊNUS: Quem são seus maiores críticos?

Zack: Recebo muitas críticas de pessoas que estão na internet para isso, o popular hate. Tudo que consegue certa notoriedade é criticado por esses seres (criticar somente por criticar). Também alguns membros da chamada “alta casta de literários” criticam e atribuem ao nosso texto um caráter superficial. Pessoalmente, eu já passei da fase de sofrer por causa disso.

“Aprendi a viver em um estado de paixão constante, sempre estou delirando e devaneando com alguém ou algo. Preciso deste caos até na hora de ser sereno.”

VÊNUS: Você se considera um escritor de sucesso? O que é sucesso para você?

Zack: Sou alguém que escreve, não sei se “escritor” é um título que mereço, pois ele me levaria ao patamar de homens e mulheres geniais que fizeram e fazem esta arte. Quanto ao sucesso, eu tenho sucesso em poder ser lido (apesar da efemeridade dos meios virtuais), mas pessoalmente, eu acredito que tenho um caminho a trilhar. Estou atrás de ter menos seguidores e mais leitores.

VÊNUS: Qual o ônus e o bônus dessa projeção nas mídias sociais?

Zack: O bônus com certeza é poder divulgar o seu trabalho e chegar diretamente no leitor, sem intermediários. O ônus é a velocidade com que tudo vira passado: um texto que você sangrou para escrever hoje, amanhã será esquecido e isso o obriga a ter uma produção quase incessante.

VÊNUS: É comum leitores acharem que você, por escrever textos relacionados à afetividade, seja um bom conselheiro sentimental? Como você lida com a demanda emocional dos seus leitores?

Zack: Muito comum. Eu recebo directs, e-mails pedindo conselhos e, na maioria dos casos, eu dou a minha opinião: é mais fácil quando estamos fora da situação. Também tem uma compensação, essas conversas servem de material, mas sempre fui um bom ouvinte, talvez este seja o meu maior dom.

VÊNUS: Você se sente superexposto? Como lida com isso?

Zack: Não muito, eu não sou uma pessoa tão interessante assim e desde o começo eu procurei não alimentar isso. Eu continuo o mesmo cara que gosta de sentar no banco mais alto do ônibus. Acho que a maioria das pessoas procura esta superexposição (tirando os astros e estrelas), são os famosos influencers. É claro que existem algumas pessoas que passam um pouco dos limites, mas isso não me afeta mais.

VÊNUS: Já teve algum relacionamento amoroso prejudicado por ser uma figura pública? E o contrário?

Zack: Algumas discussões, mas nada que foi decisivo para o fim, aprendi a ser mais reservado. Também existe um lado triste da internet: algumas pessoas querem sair com você para ganhar likes, seguidores etc. Algumas propostas são diretas, outras são mais veladas.

VÊNUS: Estar apaixonado influencia muito na sua escrita?

Zack: Aprendi a viver em um estado de paixão constante, sempre estou delirando e devaneando com alguém ou algo. Preciso deste caos até na hora de ser sereno.

VÊNUS: O que te falta? O que te angustia?

Zack: Nada e ao mesmo tempo tudo. Nada é meu, sempre estou faminto. O que me angustia é a passagem do tempo, não pelo meu desaparecimento que é uma certeza, mas porque sinto que tenho mais coisas para fazer.

VÊNUS:. O que te move?

Zack: Os lugares que ainda são sombra, a paixão pelo movimento. A sensação de estar preso a qualquer coisa me mata.

VÊNUS: O poeta é um sedutor?

Zack: É um desajustado.

VÊNUS: Amor rima com o quê?

Zack: Tempo.

VÊNUS: O que é o amor, Zack?

Zack: Muitas vezes, o amor é um infinito que mora no som de um nome.

VÊNUS: Notas sobre a Vida…

Zack: Desafinadas.


Para acompanhar o Instagram do autor: instagram.com/zackmagiezi