Biográfico, verdadeiro, misturado, chic, inovador, dançante e com letras emocionantes, a cantora e compositora de 9 das 10 faixas do seu novo cd, após uma lacuna de 10 anos, chega espalhando Amor Geral pra geral.

Como todo o seu trabalho desde o 1º disco solo SLA Radical Dance Disco Club, Fernanda sempre mostrou seu profissionalismo nos detalhes. Dona de uma personalidade mais que forte, disse o que queria fazer da sua música e assim criou no Brasil um estilo “dance music”, muito grooveada e com bastante referência da música negra.

Esse novo cd veio de anos de trabalho, juntando e fazendo canções, criando parcerias com músicos e produtores, costurando uma bela colcha de retalhos, sentimentos e novidades, com todos os ingredientes de que necessitava para falar das emoções vividas nesta década. Após a separação longa de um casamento de 28 anos, que gerou duas filhas; a morte da mãe, que entrou em coma e veio a falecer 6 anos depois; uma reestruturação familiar; e um novo amor. Fugindo das suas crônicas da sociedade, a garota carioca desta vez chega apaixonada, amando e falando das diferenças e intolerâncias que vivemos nos dias de hoje.

O trabalho tem um viés intenso e quase em extinção na nossa sociedade: o amor. Cantado em verso e prosa, sem chavões e breguices e com muito afeto, dor e diversidade. Assim Fernandinha, como é tratada por muitos, esse mulherão sangue bom, abusa de belas letras, harmonias, beats, samples, grooves, batidas disco. O seu Amor Geral surpreende pelas misturas avançadas, livres de padrões, ousadas para o mercado brasileiro. E para completar, a faixa Tambor, música sex e dançante, é uma parceria com o pai do hip hop e do Miami Bass, Afrika Bambaataa. Então “É só saber chegar. Sempre haverá outra chance de dar a volta por cima! Querendo, dá.”

VÊNUS DIGITAL – Após 12 anos sem gravar um álbum de inéditas, o que a motivou para fazer Amor Geral?

FERNANDA ABREU – Depois de um dos momentos mais difíceis para a indústria da música e de indefinição total para toda a cadeia produtiva, em minha opinião, o período de 2004 à 2014, onde muitos artistas tanto no Brasil como no mundo ficaram numa espécie de compasso de espera, comecei a me animar pra compor e produzir um material inédito, a partir de 2014. Aliado a isso, depois der tantas transformações importantes na minha vida, senti que tinha um material interessante pra trabalhar. Disso nasceu Amor Geral.

VÊNUS – Como avalia o mercado fonográfico, hoje, no Brasil?

Fernanda– O mercado digital está crescendo bastante. O streamming parece que se firmou de fato, mas ainda está em transformação rápida e constante. Porém a relação entre os criadores de conteúdo e as plataformas digitais ainda é desequilibrada. Temos que continuar lutando por uma remuneração mais justa pra compositores, interpretes e músicos.

VÊNUS – Como chegou a esse título do cd? Por quê?

Fernanda – Uma junção de um sentimento muito pessoal e individual aliado a um sentimento coletivo. Amor Geral transcende a história de cada um e tenta falar também sobre a coletividade e como o amor aparece, ou deveria aparecer, nessas relações sociais.

VÊNUS – Assim como a revista Vênus Digital aborda o amor de várias formas, como o amor é revelado no seu Amor Geral?

Fernanda – Vejo o respeito como a base de qualquer relação amorosa. No amor romântico, no amor entre amigos, no amor familiar, no sexo, nas relações cotidianas, no respeito as escolhas sexuais, culturais religiosas de cada um.

VÊNUS – O que essa turnê significa para você hoje?

Fernanda– O que eu quero é mostrar esse show pra todas as cidades do Brasil (risos)! Sério! Adoraria levar esse show pro máximo de lugares possível, pra espalhar amor através da música e da dança.

VÊNUS – Quanto tempo você levou para fazer e lançar o Amor Geral, já que bancou tudo sozinha?

Fernanda – Demorei, acredito, uns dois anos e meio entre compor, produzir e finalizar este cd.

VÊNUS – Quais ingredientes você usou na direção do show? E qual a sua avaliação do resultado final?

Fernanda– O show é um lugar de magia, música, dança, arte, festa, prazer, reflexão e celebração! O conceito principal foi fazer um show onde a dança está no centro do palco assim como a música. O repertório selecionado, a formação da banda, a escolha de uma cantora e uma bailarina pra compor a cena. Tudo para que o público possa festejar e curtir, mas também conhecer as músicas novas.

VÊNUS – Quantas músicas de catálogo têm no show?

Fernanda – São seis músicas do cd Amor Geral e 10 músicas do catálogo. Mas não são escolhas óbvias. A escolha do repertório tem a ver com o conceito do show como Eu vou torcer e Bidolibido, por exemplo.

VÊNUS – Agora foi lançado o seu catálogo nas plataformas digitais. Por que demorou tanto?

Fernanda – Tínhamos questões jurídicas a serem resolvidas. Estava bloqueada na minha antiga gravadora EMI. Ainda bem que conseguimos resolver isso no ano de lançamento deste cd inédito, já que muitos jovens e adolescentes estão procurando minha discografia a partir do lançamento do cd Amor Geral.

VÊNUS – Que transformações o Amor Geral já fez na sua vida?

Fernanda–  2016 foi muito bom pra mim! Foi o ano que lancei Amor Geral, lancei toda a minha discografia que estava bloqueada por questões jurídicas, estreei meu show novo… Um ano muito produtivo, de muito trabalho e dedicação, onde colhi os frutos, agora, no final. Um cd que apareceu em muitas listas como um dos melhores de 2016. E tenho certeza de que o show Amor Geral também vai dar o que falar.

VÊNUS – Como você falou, este cd foi muito bem comentado pela crítica em diversos cadernos de cultura no Brasil todo. Ainda tem algo que não foi falado sobre ele?

Fernanda –  Não sei… (risos)

VÊNUS – O baterista da sua banda, Tuto Ferraz, é seu marido. Como é trabalhar com ele?

Fernanda – Ótimo. Maravilhoso. Um companheiro de todas as horas! Esteve comigo desde o início do processo da produção do cd, inclusive foi quem mais me empurrou pra que eu entrasse em estúdio mesmo sem ter todas as músicas compostas ainda. No processo de criação do show, a mesma coisa. É muito bom ter alguém musical, talentoso, pra dividir os momentos de criação. Dividimos impressões, ideias, criação… E como é um músico e produtor muito profissional, é bem do jeito que eu gosto (risos).

VÊNUS – Atrapalha, em algum ponto, amor, namoro, casamento e turnê?

FA – Não. Só soma. Uma parceria completa! Eu já tinha essa experiência de trabalhar ao lado do marido com o designer e meu ex Luiz Stein. Produzimos uma parceria muito boa, mas com Tuto, por ser músico, é mais bacana ainda. Estou adorando!

“Acredito que o principal ponto de conexão entre o AMOR e o que precisamos estar atentos hoje, no Brasil e no mundo, é o RESPEITO.”

VÊNUS – Você mora no RJ e o Tuto em SP. Quais os pontos positivos e negativos em viver um amor na ponte aérea?

Fernanda – O ponto negativo é nem sempre termos ao lado a pessoa que amamos em momentos pontuais. A parte positiva é a eterna saudade e o tesão do encontro.

VÊNUS – Você é uma mulher muito bonita, cheia de vida e energia. Como o Tuto lida com a sua exposição, com os fãs?

Fernanda – Lida bem, pois sabe bem como é. Por ser bonitão e líder da banda Grooveria, também vive esse assédio e sabe que isso faz parte da nossa vida.

VÊNUS – Você passou por momentos muito intensos nestes últimos 10 anos. Separação, coma da sua mãe e diferentes formas de amor foram vivenciadas. Como foi esse processo? O que a ajudou mais?

Fernanda – O que me segurou foi exatamente o amor. O amor dos amigos, da família, do Tuto, das minhas filhas… Administrar as dores, não fugir dos momentos de tristeza, encarar com amor e delicadeza esses momentos de transformações profundas que a vida nos impõe. Saber que o sofrimento faz parte do amor. Vamos vivê-lo e transformá-lo em música, arte e na beleza que é viver.

Sabemos que na vida tudo é transitório. Precisamos acreditar que depois da tempestade vem a bonança. Tentar enxergar sempre algum lado bom de situações que a princípio não parecem ter saída.  E o que conta são os encontros, o que importa são as pessoas, o afeto. Nada adianta viver pra acumular dinheiro, riquezas, bens materiais, se não se tem amigos, uma família, um amor pra viver as aventuras da vida com a gente.

VÊNUS – Você acha que falta amor na vida das pessoas? Por quê?

Fernanda – Acho que tem faltado respeito e, como pra mim o respeito é a base do amor, acho que precisamos refletir sobre isso. Não entendo alguém ainda xingar um negro de macaco, um homofóbico matar um gay, um homem espancar uma mulher. O amor parece um enigma a ser eternamente decifrado pelo ser humano. Vamos seguir tentando…

VÊNUS – Falta amor na sua vida? Já faltou? Quando?

Fernanda – Não. Felizmente sempre tive minha família e meus amigos por perto nos momentos que precisei.

VÊNUS – Em nossos tempos de tanta superficialidade, como vê os relacionamentos afetivos, o que se quebrou? O que precisamos olhar e resgatar?

Fernanda –  Acredito que o principal ponto de conexão entre o amor e o que precisamos estar atentos hoje no Brasil e no mundo é o respeito. Respeito às escolhas individuais de cada um, mas também a coletividade. Sabemos que afetamos o mundo com nossas ações individuais e também somos afetados pelo mundo a nossa volta. Portanto existe uma relação intrínseca entre o “eu” e o “outro”. Sendo assim, acredito que, se espalharmos pensamentos e ações generosas e tolerantes, a vida ficará mais fácil pra todos.

VÊNUS – Neste cenário de tanta intolerância, que mensagem você gostaria de espalhar com o cd e o show Amor Geral?

Fernanda – Os encontros que temos na vida são o nosso maior tesouro. É onde ensinamos, aprendemos, amamos, sofremos, nos aventuramos, sonhamos e realizamos. O resto a gente administra. Aceitação como fonte de prazer. Como diz a letra de Outro Sim, “Não é fácil aceitar alguém/ e ser aceito pelo outro também”. Quando conseguimos respeitar e aceitar o outro, a vida se torna mais prazerosa de ser vivida.

Capa do novo CD


Ouça Fernanda Abreu

AMOR GERAL (mp3)

DOUBLE LOVE (mp3)


 

Fotos: Gui Paganini
Site oficial da artista: www.fernandaabreu.com.br