Quando eu me apaixonei por você, era como se eu chegasse em casa com muitas sacolas de afeto para derramar nas manhãs, tardes e noites que acolhiam nós dois. A casa, toda ela, também se revestiu de amor e tudo enfeitava a nossa rotina conjugal. O entusiasmo orquestrava as horas e o tempo em si, ele todo, poderia ser apenas aquele fiapo de manhã, uma fatia da tarde, um pedaço generoso da noite se estivéssemos juntos. O mundo carregava todas as amistosidades possíveis e amar era uma forma de abraçar a eternidade, amar era a mais profunda arte de curar.

Quando eu me apaixonei por você, eu conheci todas as temperaturas da carícia. E o teu bom humor ampliava o meu, a minha alegria incitava a tua, assim como os nossos talentos realçavam a singularidade de ambos. E a gente descobriu uma parceria criativa potente, pois fazíamos dos nossos desentendimentos, oportunidades para remanejar nossas percepções e capacidades criativas: tínhamos respeito, sobretudo, pelas nossas fragilidades.

E, quando falávamos sobre a nossa conexão, os arrepios que começavam em mim, terminavam em ti. E a maneira como você conjugava a vida fazia com que eu me sentisse sempre acompanhada, pois todos os nossos verbos eram de ligação. O EU TE AMO, dito assim mil vezes, foi ficando quase banal, embora os nossos neologismos fossem cartesianos demais para superar a frase clássica. Então, a gente reinventava o amor mesmo usando a forma mais tradicional de dizê-lo.

Hoje, desembrulhando a memória afetiva, vejo que o que eu sentia quando eu me apaixonei por você persiste forte, intenso, ampliado. Vejo que todos os lugares do mundo se tornaram tão nossos porque nossas viagens sempre começaram muito antes das passagens compradas e isso só reforça a minha convicção de que qualquer ambiente é bem mais confortável quando você está por perto. E é por tanto que fica sempre muito fácil renovar a escolha diária que é ter você comigo.

Percebo que, depois de tanto tempo com esse começo, meio e sins, na semana em que os namorados comungam da mesma celebração, o melhor presente nunca vai ser uma coisa, o melhor presente sempre vai ser um lugar: o lugar onde o amor está presente.


Autora de 4 livros: FLORES DE DENTRO, QUANDO AS PALAVRAS SE ABRAÇAM, AINDA É MUITO CEDO PRA SER TARDE DEMAIS e MATRIOSKA.

Para saber mais sobre a autora: marladequeiroz.com

Para adquirir os livros da autora autografados contacte: marlegria@gmail.com

Foto: Monste Monmo