Eu que chamei tantas vezes de amor essa força bruta e avassaladora. Onde nada poderia ser simples ou menos tumultuado porque precisava tirar o fôlego, a razão e toda a minha inteligência emocional.

Eu que chamei de amor essa coisa opressora que turvava a mente e embargava a voz com frases aflitas. Essa coisa quase injusta, pois me tornava absolutamente impotente diante de uma escolha.

Eu que chamei de amor essa explosão indomável, esse estado de urgência, essa descaracterização de mim mesma: vivia um estado de transbordamento que fazia com que me sentisse mais miserável do que plena. Sentia uma espécie de desejo onde o limite era sempre doloroso. Estava submetida a uma profusão de sentimentos incolonizáveis que faziam de mim mais vigilante que atenta, mais traída do que distraída.

Eu que chamei de amor essa embriaguez de estar tão escravizada que tentava apoderar-me não do Outro, mas da liberdade dele. Eu que não queria habitar seu coração, mas dominar os seus pensamentos. Eu que deixava de ser amante de alguém para me tornar súdita de um sentimento.

Eu que chamei de amor esse desconforto quase adorado e seu efeito lacrimogêneo: vulgarmente conhecido como paixão.


Marla de Queiroz
Autora de 4 livros: FLORES DE DENTRO, QUANDO AS PALAVRAS SE ABRAÇAM, AINDA É MUITO CEDO PRA SER TARDE DEMAIS e MATRIOSKA.

Para saber mais sobre a autora: marladequeiroz.com

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