Nos olhos dele existia um mistério tão perturbador para uma mulher como ela, que, mesmo sem consentir, ela se via arrastada para uma outra estação, a dele. E ele parecia gostar da ventania que causava nela, com aquele olhar carregado de diabos, deuses, êxtases, prazer, culpa, uma tempestade de sensações, das mais líricas às mais selvagens! Ela hesitava entre matá-lo ou amá-lo profundamente. Um verdadeiro desassossego. Tantas imagens habitavam aquele olhar, hora de homem feiticeiro, hora de menino curioso. Então, vestida de fantasias, ela correu ao encontro do menino e o puxou para brincar, e juntos embrenharam-se por florestas e montanhas; nadaram nos rios, sem roupa; sem pai nem mãe, sem lar e sem hora para voltar. Madrugada inteira de descobertas e assombros! 
Quanto ao homem, ele tinha tudo o que ela, mulher, queria. Ele era os rios, as noites, as estrelas, os sonhos e os desejos  em liberdade. O amor e seus assombros e descobertas. Tudo estava nele. E tudo estava dentro dela também. Juntos, sentiam o mundo em suas almas. Para eles, homem e mulher, bastaria um quarto de hotel barato, à beira de uma estrada qualquer . E depois, a estação de trem.

foto Ales Krivec