Desde pequena, quando algo de ruim acontecia, ouvia minha avó dizendo: “São tempos bicudos, minha filha. Isso há de passar!”

Demorei para entender o que isso significava.

Hoje, ao me deparar com pavorosas histórias de abandono forçado, penso que os tempos bicudos eram até bons, a gente é que não sabia…

Quando vejo crianças engaioladas e separadas com tanta violência de seus pais, sem qualquer cuidado ou amparo, sendo largadas à própria sorte e sem saber se um dia poderão estar juntas novamente enquanto família, quase perco a esperança no ser humano…

Déspotas e tiranos de diferentes nações, unidos e separados em nome de um protagonismo vaidoso, puxando um enorme cabo de guerra, num furor insano para saber quem será o grande vencedor, manipulando vidas humanas, usando crianças desamparadas e pais desesperados, num sujo jogo de empurra, mostrando de uma maneira cruel e covarde que a única coisa que vale é o poder.

Vidas são desprezadas e os valores são apenas comerciais. Nada é pessoal; ninguém tem cara, tampouco coração. As emoções são ora descartadas, ora ignoradas. Ninguém vale nada, e a lei regente (e irrevogável) é a do mais forte.

O tratado de direitos humanos, feito para inglês ver, serve somente como um diploma enquadrado e pronto para ser pendurado na parede recém-pintada, mostrando que ele existe apenas para enfeitar.

A infância sendo roubada violentamente na frente de quem quiser ver, vibrando no modo “simples assim”…

Infelizmente, chegamos a um ponto onde não se trata mais de discutirmos posições políticas ou simpatias pela direita ou pela esquerda. Trata-se de pessoas que precisam sobreviver, se alimentar e criar seus filhos num lugar minimamente viável, limpo e seguro. E o mundo moderno precisa dar conta disso: SIM, esta barbárie é da conta de todos; o problema é nosso, por mais que não o queiramos. Há uma necessidade premente de soluções não demagógicas, para que não nos deparemos, e muito rapidamente, com uma terceira guerra mundial.

Neste mundo “novo” que nos está sendo apresentado, liderado por alguns imbecis que se acham “deuses”, quem se inspirar no avestruz, pode morrer sufocado pela dor alheia. E depois não adianta botar a culpa nos outros, ainda que a culpa seja deles.